Joan Mir, o campeão improvável

O piloto espanhol sucede ao seu compatriota Marc Márquez na lista de vencedores do Mundial de MotoGP.

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Joan Mir LUSA/Kai Foersterling

Joan Mir não era para ter sido piloto de motos. Filho de um lojista que comercializava patins, foi o skate que, inevitavelmente, o atraiu quando era criança. Mas esta paixão infantil ajudou-o no equilíbrio e na perícia que, agora, evidencia nas pistas e que o levou neste domingo a sagrar-se campeão do mundo de MotoGP pela primeira vez, apenas cinco anos depois de ter chegado ao Mundial de motociclismo de velocidade.

Haverá certamente quem desvalorize o título de Mir. Primeiro porque foi alcançado numa temporada atípica e mais curta do que o normal, devido à pandemia – o calendário tinha previstas 20 corridas e ficou com 14.

Depois, porque foi obtido numa época em que o crónico campeão Marc Márquez não esteve praticamente em pista — uma queda logo no primeiro Grande Prémio do ano, afastou-o dos circuitos, impedindo-o de igualar os históricos sete títulos mundiais de Valentino Rossi.

E, por último, por ter sido assegurado “apenas” na penúltima prova do Mundial — o Grande Prémio da Comunidade Valenciana — e com somente uma vitória no conjunto de corridas realizadas esta temporada – obtida no passado fim-de-semana, no Grande Prémio da Europa, disputado no mesmo circuito valenciano onde ontem acabou em sétimo, o suficiente para abrir o champanhe e fazer a festa.

A verdade é que os segredos de Joan Mir ao longo deste ano foram a regularidade e a consistência. Sete idas ao pódio em 13 corridas confirmaram a sua superioridade sobre a concorrência numa época em que, face à ausência de Marc Márquez, a luta pelo ceptro de campeão mundial estava mais aberta do que nunca. E neste domingo bastou-lhe terminar atrás do português Miguel Oliveira, na sétima posição, para suceder ao seu compatriota na lista de campeões mundiais da categoria rainha do motociclismo de velocidade, beneficiando ainda do abandono de Fabio Quartararo e de Álex Rins ter terminado fora do pódio.

“Quando assinei com a Suzuki não esperava ganhar tão rápido. Esta é uma ‘família’ mais pequena, com todo o respeito pelo resto das equipas, e ganhar com ela, sempre me disseram, tem um mérito extra”, desabafou ontem Mir, conhecedor que o emblema japonês é, juntamente com a Aprilia, a marca com o orçamento mais baixo de todo o MotoGP, não posssui nenhuma equipa satélite e é composta por apenas 35 pessoas.

O facto de ter sido campeão mundial com uma Suzuki é, por isso, um marco na carreira de Mir. O espanhol sucede a alguns nomes míticos do motociclismo que proporcionaram páginas douradas à marca nipónica e que há muito tempo não era capaz de levar um piloto ao topo – a última vez tinha sido há 20 anos, com o norte-americano Kenny Roberts Jr..

“Não sei se ria ou chore, sinto-me muito feliz. Quando se persegue um sonho durante a vida inteira e finalmente ele se concretiza, não se é capaz de assimilar tudo de imediato”, disse o piloto espanhol, no final da prova de ontem. Aos 23 anos, na sua segunda temporada em MotoGP e a pilotar uma Suzuki, Joan Mir chega ao topo 13 anos após ter trocado o skate pelas motos, apenas cinco depois da sua estreia em Moto3. Melhor do que fez Valentino Rossi – o seu ídolo – que conseguiu a sua primeira coroa seis anos depois da estreia no Mundial, tal como Marc Márquez, Casey Stoner, Kenny Roberts Jr. ou Mick Doohan. Não está mal para um campeão improvável.

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