Conferência Episcopal admite não celebrar Missa do Galo se restrições não o permitirem

O porta-voz da CEP confirmou que a hipótese de não se realizarem missas com a presença dos fiéis na noite de Natal está em cima da mesa, dependente das regras impostas pelo Governo, como o recolher obrigatório.

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D. José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa ADRIANO MIRANDA

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa admitiu este sábado, em Fátima, suspender a realização da tradicional Missa do Galo, no Natal, se os números da pandemia de covid-19 continuarem preocupantes, para proteger vidas.

José Ornelas disse aguardar pela evolução do número de infectados pelo SARS-CoV-2, mas admitiu suspender a missa. “Se for necessário, para defender a vida, vamos fazê-lo”, disse na conferência de imprensa de encerramento da Assembleia Plenária da CEP, referindo-se à celebração da Missa do Galo.

Ao PÚBLICO, o porta-voz da CEP confirmou que a hipótese de não se realizarem missas com a presença dos fiéis na noite de Natal está em cima da mesa, dependente das regras impostas pelo Governo, como o recolher obrigatório ou as restrições à circulação que foram colocadas no início de Novembro. “Ainda é cedo para saber”, sublinhou o padre Manuel Barbosa. 

Este ano, o dia 25 de Dezembro será uma sexta-feira. A aplicar-se as restrições actuais, por exemplo, as missas da véspera de Natal teriam que ser antecipadas algumas horas para cumprir o horário de recolher obrigatório.

“Não brincamos com a saúde das pessoas”, reforçou D. José Ornelas em conferência de imprensa. “Iremos resolver os problemas com os mesmos princípios, com as mesmas preocupações, mas também com o mesmo sentido de equilíbrio, para não morrermos nem do vírus nem da sua cura”, sublinhou.

A principal preocupação para o presidente da CEP são os contágios em casa. “Não é mal celebrar em casa, mas não pode ser a grande família. Quem é que não gostaria de estar em casa com a grande família dos tios, avós e primos, todos juntos? Mas, para que os nossos avós cheguem ao próximo Natal, se calhar, é necessário que neste Natal não estejamos juntos, porquanto isso seja triste e desolador”, acrescentou.

Segundo o também bispo de Setúbal, a igreja tem “normas muito claras que foram acertadas com a Direcção-Geral da Saúde, até ao pormenor” e tudo tem feito para garantir a segurança nas celebrações.

“Não posso assegurar que não vai haver algum contágio, pois a maioria das pessoas infectadas são assintomáticas, mas é muito mais fácil contagiarmo-nos no supermercado ou no restaurante do que nas igrejas, até pela natureza da comunidade que se junta, a forma como está e o que faz”, afirmou José Ornelas.

José Ornelas não tem dúvidas de que “se for necessário contenção”, a igreja irá tê-la e apontou a troca de mensagens através de aplicações online como forma de “amenizar aquilo que não for possível realizar presencialmente”.

“Espero que esta seja uma ocasião para pensar um mundo melhor”

O presidente da CEP considerou ainda que as “sacudidelas” desta pandemia “são ocasiões de pensar muito as maneiras de viver”.

“Não estou a dizer que causámos esta pandemia, mas temos de pensar que preparação é que tínhamos para responder a desafios destes? O que tínhamos investido nos meios de saúde e na capacidade que temos de organizar a nossa vida”, questionou, lembrando que agora é necessário “tentar equilibrar todos os aspectos da vida entre economia, estar em casa, cuidar-se, cuidar do ambiente e deste planeta”.

José Ornelas lamentou que a pandemia tenha mostrado todo o tipo de atitudes. “Temos visto gente com abnegação total, que renuncia a si própria e à família e temos visto correntes de solidariedade muito tocantes, mesmo em termos da sociedade civil. Mas, também temos visto uma utilização e manipulação de tudo isto, uma linguagem negacionista e populista”, afirmou.

O bispo destacou ainda os “passos que a Europa tem dado no sentido dessa solidariedade, quando se diz que quando chegarem as vacinas não são só para quem tem poder de pagar”.

“Dizer-se que temos de trabalhar mais em conjunto e também usar a fragilidade dos outros para obter proveitos próprios, seja a nível político, estratégico ou militar é a maior vergonha da humanidade. Espero que esta seja uma ocasião para pensar um mundo melhor”, concluiu.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.305.039 mortos resultantes de mais de 53,4 milhões de casos de infecção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 3305 pessoas dos 211.266 casos de infecção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direcção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detectado no final de Dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

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