Chef Rui Paula sobre crise na restauração: “Isto é o Titanic, é o que é”

O chef do DOP, DOC e Casa de Chá da Boa Nova critica as medidas do Governo para a restauração. “Ou se faz alguma coisa já ou vai tudo ao ar”

Foto
Nelson Garrido

O que vai fazer hoje, dia em que os restaurantes fecham às 13?
Eu nem sequer vou abrir.

Pois, só se fosse para pequenos-almoços…
Sim, só se fosse para serviço de pequenos-almoços. O problema é que isto está de tal maneira que já nem tem a ver com os fins-de-semana. Não há gente às terças, às quintas, às sextas. As empresas não funcionam sem gente nos restaurantes. Tem que haver um planeamento económico para salvar os restaurantes. Se não têm, digam-nos. Digam-nos “não há dinheiro”.

O que sentiu quando ouviu António Costa em directo?
Senti-o perdido. Pediu desculpa, anunciou medidas avulsas. Não vou dizer mal dele, eu não queria estar no lugar dele. Mas não há planeamento! Alguém sabe como vai ser o Natal? A passagem de ano? Senti-o perdido com isto tudo. A verdade é que isto não está a resultar e o número de casos continua muito alto. Mas ou há dinheiro da Europa ou não há! Eu prefiro que se salvem as empresas a investir na mobilidade! Ou se faz alguma coisa já ou vai tudo ao ar.

O que acha das medidas anunciadas pelo primeiro-ministro?
Estas medidas para nós são zero. Ou há dinheiro para nos ajudar ou não há. E digam, para que um empresário como eu que tem 70 pessoas a seu cargo decida o que vai fazer. Não é nos meus restaurantes que há contágios. É seguro comer nos restaurantes. Estamos agora pior do que já estivemos. Era preferível decidir fechar completamente. Não há coragem para isso e não há dinheiro. Estas restrições estão a fazer com que as pessoas não andem na rua. No Porto à noite não se vê ninguém. Nem na crise de 2008 eu estive assim. Nunca tive problema nenhum. Na crise de 2008 tive que ser sincero: eu não estive mal. Nunca me queixei em 26 anos. Mas em Março deixámos de ter reservas, ninguém aguenta isto.

Qual era a solução?
Tem que haver injecção directa a fundo perdido. Não é empréstimos! Eu já fiz empréstimos! Tem que se ver a questão das rendas, que deviam ser negociadas entre o senhorio, o Governo e o empresário. No Canadá, por exemplo, 50% da renda é paga pelo Governo, 25% pelo senhorio e 25% pelo empresário. Isto é dividir o mal pelas aldeias. Esta crise precisa de respostas incisivas, imediatas. Atacar logo. Eu tenho 70 pessoas a meu cargo e é por elas que estou a lutar. De mim dependem muitas famílias e alguns trabalham comigo há anos! Se fosse só eu fechava. Não, isto não é verdade, eu não sei fazer mais nada.

O que vai fazer no fim-de-semana? Ficar em casa, claro.
Sim, ficar em casa. Parece que a única coisa a fazer é empobrecer. Isto é o Titanic, é o que é.

Sugerir correcção