Guerra na Etiópia escala com massacres contra civis e listas de membros da etnia tigré

O conflito no país africano está a agudizar-se com o bombardeamento de dois aeroportos. Governo vai investigar denúncias de massacre contra civis. Polícia pede a agência da ONU lista com nomes de funcionários.

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Membros de uma força militar da região de Amhara, que apoiam Exército etíope TIKSA NEGERI/Reuters

O conflito na Etiópia está a subir de intensidade, com o bombardeamento de dois aeroportos pelas forças tigrés, e começam a aparecer sinais que apontam para uma limpeza étnica.

O conflito assume contornos preocupantes, com notícias de massacres contra civis e com a polícia etíope a pedir ao gabinete do Programa Alimentar Mundial uma lista de todos os seus funcionários de etnia tigré, de acordo com um relatório interno das Nações Unidas divulgado pela Reuters. As autoridades deram ordens para “identificar tigrés étnicos de todas as agências governamentais e ONG”, segundo o documento.

Sem comunicações nem acesso à região, há apenas o relato de centenas de mortos e milhares de refugiados que atravessaram a fronteira para o Sudão desde o início dos combates. Mais de 14.500 pessoas procuraram refúgio no país vizinho, de acordo com os cálculos do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

A Amnistia Internacional denunciou um massacre a 9 de Novembro contra a população civil numa aldeia onde centenas de pessoas terão sido esfaqueadas até à morte. As testemunhas responsabilizaram elementos pertencentes à Frente de Libertação do Povo Tigré (FLPT), o partido que governa o Tigré, pelo ataque, mas o partido negou qualquer participação. A Comissão de Direitos Humanos da Etiópia, nomeada pelo Governo, mas independente, diz a Reuters, vai enviar uma equipa de investigadores ao local para verificar os relatos. 

Combates alastram

Este sábado, o Governo acusou os líderes regionais de Tigré de terem bombardeado dois aeroportos de uma província vizinha. Os ataques visaram dois aeroportos na região de Amhara, vizinha de Tigré, mas cujas forças militares têm combatido ao lado do Exército nacional, que lançou uma ofensiva na semana passada. O aeroporto de Gondar foi atingido na sexta-feira, mas o bombardeamento contra o aeroporto de Bahir Dar falhou o alvo, disse o Governo etíope.

A FLPT confirmou ataques contra “bases militares” na região vizinha, como retaliação pelos bombardeamentos pelo Exército etíope. “Enquanto os ataques contra o povo do Tigré não cessarem, os ataques irão intensificar”, afirmou o porta-voz da FLPT, Getachew Reda.

Há já 11 dias que o Exército etíope combate as forças tigrés, num conflito que muitos receiam poder arrastar o resto do país e até países vizinhos. A operação militar foi lançada pelo primeiro-ministro, Abiy Ahmed, que denunciou ataques das forças tigrés contra bases militares. Desde então, o Exército tem lançado ataques aéreos e terrestres na região do Norte do país e há dois dias disse ter feito progressos na frente ocidental.

O conflito reflecte o mal-estar crescente entre as várias etnias que compõem a Etiópia e que noutras ocasiões já deram origem a períodos de violência. Com Ahmed, a Etiópia passou a ser governada pela primeira vez por um membro da etnia oromo, que pôs fim ao domínio dos tigrés sobre o aparelho de Estado, apesar de serem minoritários.

A FLPT acusa Ahmed, que recebeu em 2019 o Prémio Nobel da Paz por ter assinado um acordo paz com a Eritreia, de perseguir os tigrés desde que chegou ao poder.

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