Três anos depois, Trapero regressa ao comando dos Mossos d’Esquadra

Foi destituído em 2017 com a imposição do artigo 155 da Constituição espanhola e, duas semanas depois de ser absolvido do crime de sedição, regressa ao cargo. Um “acto de justiça e reparação”, diz Pere Aragonès, número dois do governo catalão.

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Josep Lluís Trapero foi absolvido dos crimes de sedição e desobediência em Outubro EPA/Fernando Villar

O major Josep Lluís Trapero vai voltar a comandar os Mossos d’Esquadra (polícia catalã), três anos depois de ter sido afastado do cargo e cerca de duas semanas após ser absolvido de todas as acusações de colaboração com o processo independentista na Catalunha. A notícia foi avançada na quinta-feira pelo jornal  La Vanguardia e confirmada pela Generalitat (governo catalão).

Trapero foi acusado em 2018 pela Procuradoria da Audiência Nacional dos crimes de sedição e desobediência. Em causa, a manifestação de 20 de Setembro de 2017, convocada pelas associações independentistas, que levou à intervenção da polícia nacional, e o referendo do dia 1 de Outubro do mesmo ano, considerado ilegal por Madrid, em que votaram mais de 2,3 milhões de pessoas, 90% delas a favor da independência.

Por ter recusado submeter os Mossos à Polícia Nacional, Trapero foi acusado de obstruir o trabalho da Guarda Civil, que entrou em centenas de escolas para retirar urnas e boletins de voto, registando-se ainda episódios de violência que causaram mais de 800 feridos.

No passado dia 21 de Outubro, o major, destituído do cargo no final de 2017 com a entrada em vigor do artigo 155 da Constituição, imposto pelo então Governo de Mariano Rajoy para limitar a autonomia da região, foi absolvido de todas as acusações, tendo a justiça concluído que Trapero apenas actuou para “minimizar danos” e a tese de passividade dos Mossos acabou por cair.

Nos últimos três anos, Trapero esteve essencialmente focado na sua defesa e era expectável que, caso fosse absolvido, pudesse regressar ao comando da polícia catalã, apesar de o major nunca ter manifestado publicamente essa vontade.

O conselheiro (equivalente a um ministro) do Interior catalão, Miquel Sàmper, esteve reunido na quinta-feira com Trapero, que, após ser ilibado, pediu duas semanas para reflectir sobre o seu regresso ao cargo, uma proposta feita pelo próprio Sàmper.

Trapero aceitou e o chefe actual dos Mossos, Eduard Sallent, em funções desde Junho de 2019, foi exonerado do cargo.

“Após a absolvição da Audiência Nacional, reiterei ao major a vontade de o reintegrar na chefia dos Mossos e reverter os efeitos do artigo 155. Após alguns dias de reflexão, o major Trapero informou-me da sua disponibilidade para assumir novamente o comando. A nomeação entrará em vigor amanhã [sexta-feira]”, anunciou no Twitter Sàmper, agradecendo a Sallent o “bom trabalho” realizado no último ano e meio.

O regresso de Trapero foi bem recebido pelos principais partidos independentistas catalães, com o vice-presidente do governo catalão e coordenador nacional da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), Pere Aragonès, a destacar o “profissionalismo e rigor” de Trapero, considerando o seu regresso um “acto de justiça e reparação”.

Da parte do Juntos pela Catalunha, a porta-voz Gemma Geis falou naquela é “uma das melhores notícias” dos últimos anos e considerou o regresso de Trapero um acto de “justiça absoluta”. A Candidatura de Unidade Popular (CUP) ainda não se manifestou, enquanto secretário-geral do Partido Popular (PP) catalão, Daniel Serrano, afirmou que, apesar de “legal”, a nomeação do major pode ser “prejudicial para os Mossos d’Esquadra”, devido ao seu mediatismo. 

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