Mais de 80% dos doentes crónicos querem levantar medicamentos hospitalares perto de casa

Quem mudou para uma resposta de proximidade durante a pandemia poupou dias de trabalho, muitos quilómetros e dinheiro das deslocações. Mas nem todos os doentes tiveram esta oportunidade, já que houve hospitais que não os informaram sobre esta possibilidade.

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Rui Gaudencio

A maioria dos doentes crónicos, ou dos seus cuidadores, gostaria de no futuro poder levar os medicamentos de dispensa obrigatória em farmácias hospitalares em farmácias comunitárias ou recebê-los em casa, conclui um estudo da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) a ser apresentado na sexta-feira. Quem mudou para uma resposta de proximidade poupou dias de trabalho, muito quilómetros e dinheiro das deslocações. Mas nem todos os doentes tiveram esta oportunidade, já que houve hospitais que não os informaram sobre esta possibilidade.

O objectivo do estudo, realizado em parceria com a empresa 2Logical, foi analisar o impacto da pandemia no acesso à medicação de dispensa exclusiva em farmácia hospitalar, assim como o nível de satisfação com os vários modelos que foram implementados antes, durante e após o confinamento de Março. O inquérito online realizou-se entre os dias 20 de Outubro e 4 de Novembro, e resultou numa amostra de 510 inquéritos contabilizados para este estudo à população portuguesa de acordo com a incidência das doenças para as quais é necessário utilizar medicação de dispensa exclusiva hospitalar. A margem de erro é de 4,3% para um intervalo de confiança de 95%.

O que mostraram os resultados? Que 75,9% dos inquiridos que antes do confinamento levantavam medicamentos na farmácia hospitalar, 23,2% (112 utentes) mudaram para o modelo de proximidade durante o confinamento e mantiveram-se já depois do fim do confinamento. As principais razões são “conforto, poupança e rapidez” e percebe-se porquê. Segundo os resultados, “cada utente que mudou para o modelo de proximidade poupou em média 112km em deslocações (ida e volta)”, “92% passaram a gastar menos de 5 euros” e “90% dos inquiridos deixaram de ter a necessidade de faltar ou meter férias” para ir levantar a medicação.

“Uma nota positiva que sai daqui é que não existiram falhas na dispensa destes medicamentos na primeira vaga da pandemia. Mas ficou visível que há um problema de equidade no acesso ao medicamento de dispensa hospitalar. Há doentes que, em média, fazem 80 quilómetros para os levantar. Isto tem custos tremendos, não só de gastos nas deslocações, como dias de trabalho perdidos. A grande maioria destes utentes está isento do pagamento de taxas moderadoras e depois são obrigados a ter uma despesa para levantar a sua medicação”, salienta o presidente da APAH, lembrando que muitas destas pessoas estão limitadas pelas suas doenças. Em causa estão medicação para VIH, esclerose múltipla, oncologia, entre outras.

O estudo traz também um olhar para o futuro, há muito pedido pelos doentes e associações que os representam: “82,9% dos inquiridos gostaria que no futuro o levantamento da medicação fosse realizado numa farmácia perto de si (43,7%) ou em casa (39,2%)”. E há quem esteja (65% dos inquiridos) disposto a pagar para receber a medicação num local mais próximo. “Este é um programa viável e que faz sentido. O nosso interesse deve ser a maximização do poder do medicamento. A dispensa de proximidade é uma forma de o fazer”, afirma Alexandre Lourenço.

O estudo revelou ainda que dos 75,9% que antes do confinamento iam aos hospitais levantar medicação, 41,1% continuaram a fazê-lo durante e após o confinamento. Destes, “mais de metade não mudou porque o hospital não o informou dessa possibilidade”, revelam as conclusões. “São processos que dependem de vários factores, a realização de iniciativas não foi uniforme em todos os hospitais e em alguns casos poderão não ter disponibilizado este modelo”, explica o responsável.

O Ministério da Saúde criou um grupo de trabalho para avaliar os diversos projectos de entrega de medicamentos hospitalares em proximidade. Para Alexandre Lourenço está no momento de passar à acção. “Ficou demonstrado que, sem perda de qualidade, há mais acesso reduzindo a despesa dos doentes. É importante fazer um programa de proximidade desenhado para os doentes. Não podemos dizer que queremos cuidados centrados nos doentes e esta ser uma afirmação oca”, defende.

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