Morreu Gli, a “gata-imperatriz” de Hagia Sophia: viva a Gli!

Há 16 anos que vivia no museu (recentemente reconvertido em mesquita) e era uma espécie de anfitriã informal de um dos mais conhecidos monumentos de Istambul. Quando foi internada, pediram-se orações pela sua recuperação; agora que morreu, houve declarações oficiais. Gli continuará a fazer parte da história de Hagia Sophia.

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Murad Sezer/Reuters

Era bem provavelmente a gata mais conhecida na Turquia e até foi capa da Fugas: Gli tinha 16 anos e vivia em Hagia Sophia - era uma espécie de anfitriã informal do monumento, uma espécie de embaixadora de uma Istambul povoada de gatos desde tempos imemoriais. Morreu no dia 7 e as reacções à sua morte são eloquentes: nas redes sociais, muitos istambulenses manifestam a sua “tristeza” e o seu Instagram, com 133 mil seguidores (@hagiasophiacat), tem milhares de mensagens de pêsames. 

E houve até declarações oficiais. “Tenho pena de termos perdido a Gli. A gata de Hagia Sophia, Gli, que estava a ser tratada numa clínica veterinária privada em Levent desde 24 de Setembro, morreu, infelizmente, devido à idade avançada. Nunca te esqueceremos, Gli”, escreveu o governador de Istambul, Ali Yerlikaya, nas suas redes sociais, anunciando a morte da gata.

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Não era difícil encontrar Gli deambulando pela majestosa Hagia Sophia - quando a Fugas por lá andou, há quase três anos, encontrou-a facilmente, assinalada pelo seu séquito de admiradores buscando fotos. Gli não se deixava intimidar pela atenção, tanto posava descaradamente como se esquivava da atenção, tanto se deixava afagar como se recolhia em nichos inalcançáveis.

Afinal, foi sempre a sua vida: Gli nasceu em Hagia Sophia em 2004 e tinha até conta no Instagram em sua homenagem e uma biografia semi-oficial no site do monumento que é Património Mundial da Humanidade (entretanto, também ganhou entrada na Wikipédia). Lá lia-se que era filha de Sofi, irmã de Pati e Kızım, mãe de Karakız, caçadora ávida de pássaros na sua juventude - um passatempo que foi deixando para trás com a idade, a agilidade e a vista deixaram de o permitir.

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Murad Sezer/Reuters

Ficou conhecida quando o então presidente norte-americano Barack Obama, em visita oficial à Turquia, e sob o olhar atento do primeiro-ministro turco Recip Tayyip Erdogan, cumpriu o “protocolo” de a “cumprimentar” durante o ritual de visita de um dos mais conhecidos monumentos de Istambul, construído como catedral no ano de 537 pelo Império Bizantino (a maior da cristandade na época), transformada em mesquita nove séculos depois, com a conquista otomana, e secularizada em 1931. Em 1935 abriu como museu, estatuto que manteve até Julho deste ano - foi reconvertida em mesquita.

Nessa altura, muitas vozes interrogaram-se sobre o futuro de Gli mas os responsáveis da mesquita asseguraram que ela continuaria a viver ali - aliás, com nova companhia, Kılıç, que foi enviado da capital, Ancara, para tornar os dias de Gli menos solitários.

“Temos tomado conta de Gli há muito tempo e pensamos que estava muito só, então decidimos mandar Kılıç. Temos a certeza de que os gatos vão passar bons tempos juntos”, afirmou na altura o presidente do distrito de Pursaklar em Ancara. Não tiveram muito tempo juntos, os dois gatos.

Em Setembro, Gli foi internada numa clínica - no meio de pedidos de públicos orações pela sua recuperação -, onde acabou por morrer, de velhice.

Os gatos são uma constante na paisagem urbana de Istambul (e na Turquia em geral), onde deambulam centenas de milhares deles, que são cuidados pelas autoridades e pela população, que lhes deixa comida e lhes constrói abrigos - não são de ninguém e são de todos.

Afinal, são considerados um elo de ligação com Deus. Em 2017, a realizadora turca Ceyda Torun filmou-os num documentário chamado Kedi, pretexto de uma visita da Fugas.

Nessa altura, Gli foi a capa: “Gli, a imperatriz de Hagia Sophia (e outras histórias de gatos)”.

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