Morreu Nelly Kaplan, realizadora de A Noiva do Pirata

Cineasta franco-argentina “anarco-feminista” morreu em Genebra aos 89 anos, vítima de covid-19

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Nelly Kaplan em 1998 Louis MONIER/gamma-rapho/getty

Nelly Kaplan, realizadora “anarco-feminista” e autora de um dos grandes filmes de culto dos anos 1970, A Noiva do Pirata, faleceu num hospital de Genebra ao princípio da manhã de quinta-feira, aos 89 anos, vítima de covid-19.

A Noiva do Pirata (1969), que esteve no Festival de Veneza e se tornou um objecto de culto na década de 1970, foi a primeira das suas cinco longas-metragens e continua, ainda hoje, a ser o filme pelo qual Kaplan é recordada. A “história de uma bruxa dos tempos modernos”, nas palavras da realizadora, com música de Georges Moustaki e Bernadette Lafont no papel de uma órfã que se vinga da aldeia mesquinha onde a sua mãe foi explorada, apenas teve estreia em Portugal depois do 25 de Abril. Dirigiu ainda A Filha do Milionário (1971), Néa (1976), Charles e Lucie (1979) e Plaisir d’amour (1991), e o telefilme Pattes de velours (1987). 

Nascida em Buenos Aires em 1931, filha de judeus russos, Nelly Kaplan começou por estudar economia mas o seu amor pelo cinema levou-a a mudar-se para França em 1952. Através da sua amizade com Henri Langlois, fundador da Cinemateca Francesa, conheceu o realizador Abel Gance, de quem foi assistente em vários projectos, incluindo Austerlitz (1960)através deste tornou-se amiga dos surrealistas André Breton e André Pieyre de Mandiargues. 

Na década de 1960 filmou uma série de curtas-metragens documentais sobre artistas como Gustave Moreau ou Pablo Picasso (Le Regard Picasso, premiado em Veneza em 1967), ao mesmo tempo que começou a escrever ficções “anarco-feministas”, inicialmente sob pseudónimo, e que chegaram inclusive a ser censuradas (caso de Mémoires d’une liseuse de draps, publicada em 1974 mas imediatamente interditada). 

Armada cavaleiro da Legião de Honra em 1996, Kaplan continuou activa como argumentista, colunista de imprensa e rádio e escritora. Deve-se-lhe ainda um documentário televisivo sobre Napoleão de Gance

Nelly Kaplan fora acompanhar a Genebra o seu companheiro desde sempre, o realizador e produtor Claude Makovski, que co-produziu todos os seus filmes (e em alguns dos casos co-escreveu-os também). Makovski morreu naquela cidade suíça em Agosto último, de doença de Parkinson, e foi na casa de repouso onde a cineasta estava internada que contraiu a covid-19 que viria a vitimá-la. 

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