Moçambique: 12 iranianos acusados de apoiarem jihadistas de Cabo Delgado

Grupo foi detido na posse de armas destinadas aos insurgentes jihadistas que têm atacado Cabo Delgado. António Guterres condena “veementemente” violência na província do Norte de Moçambique.

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Praia dos pescadores do bairro de Paquitequete em Pemba, um dos principais pontos de chegada de deslocados da violência armada em Cabo Delgado LUSA/RICARDO FRANCO

O Ministério Público moçambicano acusou 12 iranianos de apoiarem os grupos rebeldes em Cabo Delgado, no Norte do país, mantendo-os em prisão preventiva, anunciou fonte judicial.

O grupo foi detido em Dezembro de 2019 numa embarcação carregada de armas ao largo da baía de Pemba, capital provincial de Cabo Delgado.

O Ministério Público acusa-os de terrorismo, associação criminosa, porte de armas proibidas e crime de organização contra o Estado, ordem e tranquilidade públicas, segundo a informação citada esta quarta-feira pela Rádio Moçambique.

De acordo com a acusação, os 12 iranianos pertencem a uma organização terrorista e iam abastecer com armas e munições os insurgentes que têm atacado a região.

O grupo transportava na embarcação metralhadoras AK47, caçadeiras, pistolas e munições, binóculos, uma motorizada e um cartão de crédito.

A província de Cabo Delgado é palco há três anos de ataques armados desencadeados por forças terroristas, que se intensificaram este ano.

Há diferentes estimativas para o número de mortos, que vão de mil a duas mil vítimas. Segundo dados oficiais, há, pelo menos, 435 mil deslocados internos devido à violência protagonizada por grupos classificados como terroristas em distritos mais a Norte da província.

As Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas descrevem como “grave” a situação em Cabo Delgado, assinalando que o porto e o aeroporto de Mocímboa da Praia continuam nas mãos de grupos armados.

A capital de Cabo Delgado, Pemba, está desde meados de Outubro a receber uma nova vaga de deslocados, que viajam em barcos precários.

As vítimas da violência na região rica em gás natural têm-se espalhado por outras regiões, nomeadamente as vizinhas províncias de Niassa e Nampula, mas as autoridades locais também têm oferecido ajuda a famílias refugiadas que chegam mais a Sul, nomeadamente à Zambézia e Sofala.

Guterres condena violência 

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, condenou esta quarta-feira “veementemente” os massacres em Cabo Delgado e instou as autoridades do país a conduzirem uma investigação sobre os incidentes.

“O secretário-geral está chocado com os recentes relatos de massacres perpetrados por grupos armados [...] em várias aldeias na província de Cabo Delgado, no Norte de Moçambique, incluindo a decapitação e rapto de mulheres e crianças”, lê-se num comunicado divulgado na noite de terça-feira (madrugada de quarta-feira em Lisboa e Maputo) pelo porta-voz, Stephane Dujarric.

Na nota, acrescenta-se que o responsável da ONU “condena veementemente essa brutalidade atroz”.

Vários órgãos de comunicação moçambicanos, portugueses e internacionais relataram um massacre perpetrado pelo Daesh, no final da semana passada, em Cabo Delgado, com início na aldeia de Nanjaba.

A Agência de Informação de Moçambique citou a Polícia moçambicana, afirmando que mais de 50 pessoas foram sequestradas e depois decapitadas na aldeia de Muatide, “num campo de futebol que se transformou num campo de extermínio”.

Segundo a BBC, que cita a Agência de Informação de Moçambique e o portal de notícias Pinnacle News, as decapitações terão sido realizadas entre a passada sexta-feira e domingo.

O Pinnacle News fala mesmo em centenas de vítimas e “cerca de 40 decapitações” noutras aldeias, incluindo de muitas “crianças com menos de 15 anos”.

“O secretário-geral da ONU insta as autoridades do país a conduzir uma investigação sobre esses incidentes e a responsabilizar os responsáveis”, declarou o porta-voz Stephane Dujarric, apelando a “todas as partes em conflito para que cumpram as suas obrigações ao abrigo do direito internacional humanitário e dos direitos humanos”.

O secretário-geral reiterou o compromisso das Nações Unidas em continuar a apoiar a população e o Governo de Moçambique na abordagem urgente das necessidades humanitárias imediatas e nos esforços para defender os direitos humanos, promover o desenvolvimento e prevenir a propagação do extremismo violento.

Já na semana passada, a Agência France-Presse noticiava que “corpos desmembrados de pelo menos cinco adultos e 15 menores foram encontrados (…) numa floresta na cidade de Muidumbe”.

Alguns relatos dizem que as vítimas dos ataques estavam num rito de iniciação ou passagem à vida adulta.

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