Morreu com covid-19 o jornalista e escritor Artur Portela Filho

Fundador do Jornal Novo e da revista Opção, colaborou durante a carreira com várias publicações nacionais e publicou mais de duas dezenas de obras. Morreu esta terça-feira, com 83 anos, vítima de covid-19.

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Artur Portela Filho em 2018 Nuno Ferreira Santos

O jornalista, escritor e tradutor Artur Portela Filho, morreu esta terça-feira, aos 83, vítima de covid-19. A notícia foi confirmada à Lusa por uma fonte da família.

Artur Portela Filho nasceu a 30 de Setembro de 1937, em Lisboa, durante “o furacão da Guerra Civil de Espanha”, no seio de uma família de escritores, pintores e jornalistas (como o seu pai, Artur Portela, que foi até correspondente no conflito espanhol).

Como jornalista, foi redactor do Diário de Lisboa ​nas décadas de 50 e 60, e fundou e dirigiu o Jornal Novo, entre 1975 e 1977, uma publicação “de combate contra a direita, a extrema-direita e contra o gonçalvismo”, disse numa entrevista ao PÚBLICO em 2018. Fundou também a revista Opção, durante a década de 70, e colaborou com outros jornais como o República, A Capital ou o Jornal do Fundão​. Mais recentemente colaborou com o jornal i.

A sua obra divide-se entre a ficção em prosa, teatro, contos e crónicas, contando com mais de duas dezenas de títulos publicados, como o livro de contos A Gravata Aberrante​, os romances O Código de Hamurabi  e Rama, verdadeiramente ou os volumes de crónicas A Funda. O seu primeiro livro, a colectânea de críticas, Feira das Vaidades, foi publicado em 1959 e rapidamente foi apreendido pela PIDE.

Formado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, trabalhou também como publicitário e fez investigação histórica sobre temas como as décadas 30 a 60 do século XX português, nomeadamente sobre as relações do Estado Novo com a Espanha de Francisco Franco e a Itália de Benito Mussolini.

O antigo ministro da Cultura, José Sasportes, descreve Artur Portela Filho como um homem “imaginativo, impertinente, frontal, corajoso”, características que passavam para a sua escrita de jornalista e cronista, 

"Está por valorizar o ficcionista que também foi, pois os seus romances, com um estilo cintilante e acutilante, constituem um retrato vivo dos anos em que ele foi um dos protagonista da vida literária de Lisboa”, disse ao PÚBLICO.

José Sasportes recorda que conheceu Artur Portela Filho em 1958, na redacção do Diário de Lisboa, de onde saíram ao mesmo tempo: “eu despedido por ter ousado reclamar o pagamento do meu trabalho de crítico, que acumulava com o de redactor. O Artur Portela e mais três camaradas – o Urbano Tavares Rodrigues, o Renato Boaventura e o Vasco Pulido Valente – demitiram-se por solidariedade comigo, e também com o Carlos Veiga Pereira, igualmente despedido nessa ocasião. Naqueles anos tal gesto era inédito e destemido”.

Questionado em 2018 sobre a vida que teve, Artur Portela Filho não tinha dúvidas: "sim, valeu a pena. Sem dúvida que este país vale a pena, não tenho uma má relação com o meu país nem com os meus concidadãos. Tenho seis filhos e oito netos, a maioria das vezes é uma rectaguarda confortável, dá-me ânimo e claro que valeu a pena.”​

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