PCP e IL lançam duras críticas ao recolher obrigatório

PAN mostra preocupação com restrições mas elogia a realização de testes à chegada e saída de Portugal

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Jerónimo de Sousa considerou as medidas "desproporcionais, incongruentes e desadequadas" LUSA/MIGUEL A. LOPES

Dois dos partidos que votaram contra o estado de emergência – o PCP e a Iniciativa Liberal – reagiram com duras críticas às novas medidas restritivas anunciadas pelo Governo. Mesmo o PAN, que se absteve, fala em “exagero” do recolher obrigatório caso não estejam salvaguardadas algumas excepções.

Jerónimo de Sousa considerou que as limitações são “não só desproporcionais, incongruentes e desadequadas como sobretudo não têm correspondência com as exigências colocadas no plano da saúde pública e da capacitação do SNS para enfrentar a epidemia de covid-19, e para criar condições de protecção sanitária para que a vida nacional prossiga”.

Num comício em Castanheira do Ribatejo (no concelho de Vila Franca de Xira), o líder comunista criticou que, a pretexto da subida de casos de covid-19, aumentem “as vozes dos que reclamam mais restrições às liberdades, mais cortes de direitos e mesmo medidas mais musculadas, trocando a pedagogia pela via repressiva no combate à pandemia”. O secretário-geral comunista defendeu que o país precisa é de “medidas que estimulem a protecção individual, promovam a pedagogia da protecção e assegurem condições de segurança sanitária para que a vida nacional possa prosseguir nas suas múltiplas dimensões”.

Jerónimo de Sousa foi confrontado pelos jornalistas com a possibilidade de futuras medidas de liberdade de circulação não poderão condicionar ou impedir o congresso do PCP, marcado para os dias 26, 27 e 28 deste mês. “Só para a descansar, faremos o congresso do PCP. As liberdades nunca podem ser juguladas”, respondeu. O PÚBLICO questionou o gabinete de imprensa do partido sobre a possibilidade de deslocalizar o congresso para um concelho não abrangido pelas restrições mas não foi acrescentada outra informação ao que disse o secretário-geral comunista. 

Outra reacção dura veio da Iniciativa Liberal ao considerar que decretar o recolher obrigatório “sem demonstrar uma base científica sólida que o justifique é mais um sinal da desorientação e incapacidade que o Governo socialista tem demonstrado na gestão desta crise”.

Numa mensagem divulgada nas redes sociais, a IL aponta a medida como tendo uma “eficácia duvidosa” e que “irá levar a maiores concentrações durante certos períodos de tempo, empurrará as pessoas para locais fechados e continuará a arrasar economicamente vários sectores já bastante afectados, como o comércio e a restauração”.

Lembrando que o primeiro-ministro esteve ausente do debate sobre o novo estado de emergência, o partido liderado por João Cotrim Figueiredo acusa o Governo de não ter preparado a segunda vaga. “Esta escalada na restrição dos direitos e liberdades individuais e do esmagamento de várias actividades económicas que servem de sustento a muitos portugueses deve-se ao facto de o Governo ter desperdiçado oito meses sem criar uma estratégia adequada e a ter partidos que o aceitam e permitem”, lê-se, criticando também os partidos que viabilizaram o estado de emergência de terem desistido de “defender a possibilidade de os portugueses continuarem as suas vidas”.

Mais suave foi o PAN. André Silva mostrou “enorme preocupação com a saúde e a equilíbrio mental faz pessoas face ao exagero das medidas do recolhimento obrigatório que o Governo possa não estar a acautelar em especial os que já se encontram mais isolados e fragilizados”.

Num vídeo enviado às redacções, o líder do PAN assumiu preocupação com a possibilidade de não virem a estar garantidas no decreto “as excepções para as pessoas poderem sair para actividades como fazer voluntariado social, visitar idosos nos lares, fazer exercício físico sozinhos, passear o cão ou deslocar-se a abrigos para alimentar animais”.

André Silva disse ainda “dar uma nota de concordância” à realização de testes de diagnóstico a quem pretenda sair ou entrar no território nacional, por via aérea ou terrestre, “uma medida que o PAN vem defendendo há meses mas que o PS e o Governo não foram acolhendo”.

Outro partido que se absteve na votação da declaração do estado de emergência - o Chega - considerou que as restrições são o “enterro” da restauração e do comércio, repudiando as limitações que diz serem “absurdas e desproporcionais”.

“Mesmo sem qualquer evidência científica ou sanitária de que um recolher obrigatório, sobretudo aos fins-de-semana, resolverá o que quer que seja - como reconheceu o próprio primeiro-ministro há algumas semanas - o Governo insiste em copiar modelos europeus desastrosos”, refere o partido em comunicado após reunião do seu órgão executivo.

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