Comboios na Catalunha vão ter uma “carruagem de silêncio” para evitar contágios de covid-19

Medida segue recomendações de especialistas, que aconselham a não conversar nos transportes públicos para evitar a emissão de aerossóis.

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O número de "carruagens silêncio" para combater o vírus pode aumentar no futuro FGC Ferrocarrils de la Generalitat de Catalunya

A partir desta segunda-feira, todos os comboios dos caminhos-de-ferro da Catalunha, em Espanha, terão uma carruagem de silêncio na qual os passageiros podem viajar escolhendo não falar ao telemóvel nem conversar uns com outros. O objectivo é reduzir o contágio da propagação do vírus que causa a covid-19, tendo em conta que o risco de emissão de aerossóis pode ser 50 vezes maior quando alguém vai a falar ao telemóvel.

A informação foi confirmada este sábado pelo responsável do governo catalão, Damià Calvet, numa entrevista à rádio catalã Rac 1 , em que justifica esta medida atendendo a “recomendações sanitárias”.

O responsável sublinha que o não falar nestas carruagens é só uma recomendação, visto que não se pode obrigar as pessoas a guardar silêncio absoluto durante a viagem. Para já, esta medida estará em vigor numa carruagem em cada comboio, podendo passar a duas se a procura de passageiros que desejem viajar com mais este filtro contra o vírus SARS-CoV-2 assim o justificar. Damià Calvet refere que foram os próprios cientistas que fizeram um apelo a que os utentes dos transportes mantenham a boca fechada enquanto viajam.

María Cruz Minguillón, investigadora do Conselho Superior de Investigações Científicas, disse numa entrevista à mesma rádio que o ideal seria que no Metro esta regra do silêncio vigorasse em todas as carruagens devido à maior exposição de aerossóis num ambiente fechado e em que o ar não é renovado facilmente. Em contrapartida, as viagens de Metro são relativamente rápidas (uma média de 15 a 20 minutos por passageiro), o que reduz a probabilidade de contágio.

As carruagens silêncio já são prática nos comboios de alta velocidade espanhóis desde 2014, mas por outros motivos: proporcionar conforto aos passageiros que não querem ouvir os vizinhos a falar ao telemóvel. A regra nestas carruagens é usar auriculares e falar baixinho quando necessário.

A França também introduziu as voiture silence no TGV, que obedecem às mesmas regras, e a que passou a chamar mais tarde Espace Calme. Na Alemanha, Holanda e Reino Unido também há comboios de longo curso com zonas de silêncio.

A novidade agora é que as regras aplicadas ao conforto dos passageiros também servem para combater a pandemia. Isto, apesar de os transportes públicos não serem dos principais difusores de surtos de contágio.

José Manuel Viegas, especialista em transportes, diz que “avaliações empíricas rigorosas” feitas na Dinamarca, França, Reino Unido e Japão, mostram que a frequência do contágio nos transportes públicos é muito baixa. Em França, por exemplo, só 1,2% dos contágios tiveram origem nos transportes. E o mesmo estudo revela que no Reino Unido “a probabilidade do contágio no transporte público por viagem é menor que a probabilidade de morte num acidente rodoviário”.

O investigador, que falou sobre este assunto no congresso da Associação para o Desenvolvimento dos Sistemas Integrados de Transportes (ADFERSIT), que decorreu no começo de Novembro na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, explica que a principal razão para esta baixa taxa de contágio é o comportamento dos passageiros quando estão a bordo. Segundo Viegas, “as pessoas, como sentem que estão com uma proximidade maior, vão caladas e em muitos casos até se colocam longe da linha de respiração directa dos outros, o que reduz o risco de contágio”.

Em Portugal, os ministros Pedro Nuno Santos e João Matos Fernandes, que têm a tutelas dos transportes públicos, referiram vários vezes que é seguro andar de comboio, metro e autocarro, reiterando que estes não são focos de infecção.

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