O longo caminho de volta de Nico Gaitán

Internacional argentino regressa neste domingo à Luz, com a camisola do Sp. Braga, para defrontar o Benfica, dez anos depois da estreia e quatro anos depois da despedida.

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Gaitán defrontou o Benfica na pré-época LUSA/ANTONIO COTRIM

A 15 de Maio de 2016, Nicolas Gaitán despediu-se de um Estádio da Luz lotado e em festa. O Benfica celebrava o 35.º título de campeão nacional depois de uma vitória por 4-1, sobre o Nacional, com dois golos do genial canhoto argentino. Cinco dias depois, em Coimbra, o Benfica ganhou mais um título (6-2 ao Marítimo na final da Taça da Liga) e Gaitán marcou o seu 41.º e último golo ao serviço do clube, num jogo que já sabia ser o da sua despedida. Iria para o Atlético Madrid, para pastagens espanholas mais verdes (leia-se, um bom contrato), mas não mais voltou a ser tão feliz como tinha sido nos seus seis anos em Lisboa.

Foi um longo caminho aquele que trouxe Nico Gaitán, quatro anos depois, de volta à Luz. O argentino entrará neste domingo em campo com a camisola do Sp. Braga para defrontar o Benfica, depois de quatro anos nómadas em que passou por Espanha (Atlético), China (Dalian Pro), EUA (Chicago Fire) e França (Lille). Regressou a Portugal, não para o Benfica (que não o quis, segundo palavras do próprio, não especificando se foi o clube ou Jorge Jesus a rejeitar esse cenário), mas para ajudar o Sp. Braga no seu grande salto em frente no futebol português.

Regresso em 2020, despedida em 2016, estreia em 2010. Gaitán chegou para encaixar no lugar que Angel di María (vendido ao Real Madrid) tinha no primeiro Benfica campeão de Jorge Jesus, com um preço de custo de 8,4 milhões de euros e o estatuto de internacional argentino. Este era um Benfica muito sul-americano, com argentinos, brasileiros, uruguaios e paraguaios que faziam sonhar os adeptos - Aimar, Salvio, Saviola, David Luiz, Luisão, Maxi Pereira ou Cardozo. Gaitán não foi um encaixe imediato, mas a sua influência foi crescendo até se tornar indispensável, com golos, assistências e muita magia durante seis temporadas de muitas conquistas, com Jesus e, depois, com Rui Vitória - três títulos de campeão, cinco Taças da Liga, uma Taça de Portugal e uma Supertaça.

Foram também épocas de “sai, não sai” em que o destino mais vezes apontado era o Manchester United, mas o argentino, depois de seis anos na Luz, rumou à Liga espanhola. Despediu-se como um membro da família naquela final da Taça da Liga, em lágrimas, porque já sabia que ia mudar de casa. O Atlético de Madrid de Simeone seria, aos 28 anos, o seu passo em frente no futebol europeu, mas foi no sentido contrário, como reconheceria numa entrevista ao Maisfutebol em 2019. “Quando assinei pelo Atlético, imaginei que as coisas se passassem de maneira diferente. Pensei que estava a dar um passo em frente, mas estava a dar um passo atrás”, contou o argentino.

A verdade é que Gaitán nunca foi primeira opção para o seu compatriota que estava (e continua a estar) no banco dos “colchoneros”. Em época e meia, Gaitán fez 49 jogos (23 a titular, 26 como suplente utilizado) e marcou quatro golos, e, em Fevereiro, o Atlético decidiu recuperar parte dos 25 milhões que investira nele, vendendo-o para o futebol chinês e para uma equipa que não era propriamente de topo (mas que tinha dinheiro).

E lá foi Gaitán, em 2018, para o exílio chinês, de onde passou, no ano seguinte, para o exílio norte-americano. É verdade que voltou a ser importante, mas as maravilhas que o seu pé esquerdo fazia estavam longe dos palcos importantes do futebol. No final de 2019, foi usado como trunfo eleitoral por um candidato à presidência do Boca Juniors. Estava tudo acertado, dizia o candidato, para que Gaitán regressasse à Bombonera, e Gaitán queria voltar a vestir a camisola do clube de Maradona. Mas isso também nunca aconteceu.

O mercado de Inverno de 2019-20 reabriu-lhe as portas do futebol europeu, mas por pouco tempo. O Lille ofereceu-lhe um contrato que seria de curta duração – em Junho, o clube francês estava a anunciar a sua saída. No Lille, Gaitán teve pouquíssimo tempo para mostrar alguma coisa, apenas 50 minutos em quatro jogos como suplente utilizado e que não teriam qualquer seguimento, porque a Liga francesa não foi retomada depois de ter sido interrompida pela pandemia.

Em todas as entrevistas que foi dando, Gaitán nunca escondeu o seu desejo de regressar ao Benfica, mas essa porta manteve-se fechada, não se sabe por quem. “Não sei quem foi e não vou dizer se foi um ou outro. Para mim, já está. Para mim acabou o Benfica”, disse em Agosto passado, numa entrevista ao jornal Record, já depois de ter assinado pelo Sp. Braga, equipa na qual, aos poucos, vai conquistando o seu espaço, depois de um início de época limitado por problemas físicos.

E bastaram 11 minutos no seu jogo de estreia na equipa de Carlos Carvalhal para nos lembrarmos do que o seu pé esquerdo é capaz de fazer – um golaço num tiro de fora da área, em corrida, tal como o Gaitán dos velhos tempos. Marcou muitos destes no relvado que voltará a pisar (se Carvalhal assim o entender), mas será recebido por bancadas vazias, tal como aconteceu no particular de pré-época, em que jogou meia parte. Sem os adeptos que nunca o iriam ver como um inimigo, mas como um herói que lhes deixou boas memórias.

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