Ministro da Defesa assume que igualdade de género nas Forças Armadas “não é assunto menor”

João Gomes Cravinho participou por videoconferência no seminário internacional “Women, Peace and Security - 20 years of UNSC Resolution 1325” que contou com Jean Pierre Lacroix, subsecretário-geral da ONU para as operações de paz.

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Ministro da Defesa diz ser “muito perigoso” olhar-se para a igualdade de género como uma agenda política Paulo Pimenta

O ministro da Defesa considerou esta sexta-feira que as questões da igualdade de género nas Forças Armadas “não são um assunto menor” como “alguns podem pensar”, pelo que não podem ser tratadas apenas no campo político.

João Gomes Cravinho falava por videoconferência no seminário internacional "Women, Peace and Security -- 20 years of UNSC Resolution 1325”, organizada pelo Instituto de Defesa Nacional e pelo Gabinete da Igualdade do ministério, para assinalar os 20 anos da Resolução 1325 do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre “Mulheres, Paz e Segurança”.

“As perspectivas de género são imensamente relevantes neste aspecto e estão no centro do campo de acção das Forças Armadas. Não são um assunto menor a distrair-nos da essência do nosso trabalho, como alguns podem pensar ou sugerir”, considerou o ministro.

Segundo o titular da Defesa, olhar para a igualdade de género como “uma agenda imposta apenas por certas forças políticas e sociais” é “muito perigoso”, sendo a sua promoção “uma responsabilidade de todos”.

“Não podemos ver a igualdade de género como um assunto político, é simultaneamente um caso de direitos humanos, de eficácia operacional e um pilar para sociedades mais resilientes”, sustentou ainda João Cravinho apontando que, “só fazendo destas preocupações uma parte do ADN das Forças Armadas” é que serão feitas as mudanças necessárias, afirmando acreditar que os militares podem ser um exemplo para a sociedade portuguesa.

“As Forças Armadas podem ser o exemplo, a força motriz para a mudança nas sociedades no seu caminho até à igualdade de género, tal como já foram no passado em tantos outros importantes acontecimentos da nossa sociedade”, assinalou.

Apontando que a preparação dos militares tem de passar pelo treino para a guerra, mas também para a construção de processos de paz, o governante realçou que ajustar as capacidades de treino e composição das Forças Armadas às perspectivas de género “não torna as missões menos eficazes, torna-as mais eficazes”.

Jean Pierre Lacroix, subsecretário-geral da ONU para as operações de paz e um dos principais oradores da conferência, que está de visita a Portugal, sublinhou que, para construir a paz, as forças armadas de todo o mundo devem reflectir a sociedade, incluindo as mulheres, e que a sua “participação activa” nestes processos deve ser cada vez mais incentivada.

Também a directora do Instituto de Defesa Nacional, Helena Carreiras, considerou necessário eliminar a ideia de “neutralidade de género,” mas sim tirar partido das características de homens e mulheres, sem eliminar as suas diferenças, acrescentando que a “igualdade formal” nem sempre se traduz em igualdade real.

A conferência contará, ao longo do dia, com a participação de Clare Hutchinson, Representante Especial do Secretário-Geral da NATO para a agenda “Mulheres, Paz e Segurança” e da Embaixadora Mara Marinaki, Conselheira principal para as questões de género e implementação da RCSNU1325, no Serviço Europeu de Acção Externa.

O encerramento caberá à Secretária de Estado de Recursos Humanos e Antigos Combatentes, Catarina Sarmento e Castro.

Com a Resolução 1325, aprovada em Outubro de 2000, o Conselho de Segurança das Nações Unidas abordou pela primeira vez os impactos específicos de género nos conflitos, nomeadamente a importância da participação das mulheres em todos os níveis da tomada de decisão, incentivando a sua participação no reforço da construção da paz através da prevenção e resolução de conflitos.

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