Activistas negros, gays e trans, e defensores de conspirações: os novos congressistas (e uma senadora) dos EUA

Ainda não há Presidente eleito, mas já há membros do Senado e da Câmara dos Representantes escolhidos. Este ano, há alguns inéditos: desde uma senadora trans a uma congressista defensora de teorias da conspiração, reunimos sete eleitos.

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Além da votação para o cargo de Presidente, que ainda não foi escolhido, os norte-americanos votaram também para renovar os 435 lugares da Câmara dos Representantes e um terço dos Senadores. Os representantes são eleitos para mandatos de dois e seis anos, respectivamente, e deverão tomar posse em Janeiro de 2021, na mesma altura em que o presidente eleito. Entre os escolhidos, há uma senadora transgénero e congressistas homossexuais, negros e latinos, mas também defensores de teorias da conspiração. Eis alguns deles:

Sarah McBride, senadora transgénero

É a primeira senadora estadual transgénero da história dos Estados Unidos. Sarah McBride foi eleita pelo Delaware, vencendo ao republicano Steven Washington com 86% dos votos. A activista de 30 anos estagiou na Casa Branca durante o mandato de Barack Obama e foi a primeira pessoa trans a falar numa convenção de um partido grande do país: em 2016, na Convenção Nacional Democrata.

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REUTERS/Mike Segar

Actualmente, trabalhava como secretária de imprensa da LGBTQ+ Human Rights Campaign, uma organização pró direitos LGBTQ. No Twitter, após ter conhecimento da vitória, a nova senadora do Delaware escreveu: “Espero que esta noite mostre a uma criança LGBTQ que a nossa democracia é suficientemente grande para ela também.”

Ritchie Torres, afro-latino e gay

Afro-latino e assumidamente gay, Ritchie Torres foi eleito para o Congresso dos EUA pelo distrito 15 de Nova Iorque. O candidato democrata de 32 anos derrotou o republicano Patrick Delices, tornando-se, juntamente com Mondaire Jones, no primeiro negro que se identifica como gay a ocupar um lugar no Congresso.

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REUTERS/Brendan McDermid

Ritchie Torres cresceu no Bronx e a sua missão, diz, é representá-lo: “Esta noite, fizemos história. É a honra de uma vida servir a nossa comunidade”, escreveu no Twitter. À CNN, o democrata disse que a sua “maior prioridade” é “a crise de acessibilidade” na habitação, e garantiu que iria também trabalhar para expandir o abono, de forma a aliviar a pobreza infantil.

Mondaire Jones, negro e gay

A favor do Green New Deal; contra as infra-estruturas de combustíveis fósseis; a favor de um serviço de saúde para todos: estas são algumas das convicções de Mondaire Jones, o candidato negro e gay que, juntamente com Ritchie Torres foi eleito para o Congresso, por Nova Iorque, mas pelo distrito 17.

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“Nunca houve um membro do Congresso negro e assumidamente gay na história de 244 anos dos Estados Unidos, e foi apenas nos últimos anos que comecei a pensar que isso era possível”, disse Mondaire Jones no podcast Mother Jones. No mesmo episódio, falou sobre a homofobia de que foi vítima enquanto candidato e de experiências de vida que o motivaram a continuar: “Para mim, a política é pessoal. Cresci numa casa subsidiada e com cupões de comida. Não é académico, para mim.”

Mauree Turner, muçulmana não-binária

Eleita pelo Oklahoma, Mauree Turner é a primeira congressista não-binária eleita na história dos Estados Unidos e a primeira muçulmana no estado. Com 27 anos, derrotou a republicana Kelly Barlean, com cerca de 71% dos votos.

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Mauree dedicou grande parte da vida a defender questões como os direitos dos imigrantes, justiça racial e criminal e a sua campanha baseou-se numa plataforma que procurou conversar sobre a representatividade inclusiva.

A viver como uma muçulmana negra e queer no Oklahoma, Turner referiu saber, na primeira pessoa, o que é não ser vista ou ouvida por quem governa. E quer mudar isso.

Cori Bush, activista Black Lives Matter

A democrata Cori Bush é a primeira activista do movimento Black Lives Matter a chegar ao Congresso. Depois de um ano marcado por protestos contra a violência policial e o racismo, a candidata de 44 anos — enfermeira que já foi sem-abrigo — foi eleita pelo estado do Missouri. E será também a primeira mulher negra a representar este estado.

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REUTERS/Lawrence Bryant

Cori, que faz parte da ala mais progressista do Partido Democrata, venceu o republicano Anthony Rogers com 78,9% dos votos. “Para todos os que ficaram de fora, os esquecidos, marginalizados e deixados de lado. Este é o nosso momento”, escreveu no Twitter.

Madison Cawthorn, o mais novo do Congresso

Com 25 anos feitos em Agosto último, Madison Cawthorn é o mais jovem dos últimos 50 anos a chegar ao Congresso — e também o mais novo a assumir o cargo em Janeiro de 2021. Com a idade mínima para se candidatar a um cargo no Congresso, Madison foi eleito pelo estado da Carolina do Norte, vencendo o democrata Moe Davis com 54,5% dos votos.

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Republican National Convention/Handout via REUTERS

Pró-Trump, anti-aborto e pró-Segunda Emenda (a que permite a posse de armas no país), Cawthorn, que teve, há seis anos, um acidente de carro que o deixou parcialmente paralisado, apresentou-se como uma lufada de ar fresco no Partido Republicano.

Polémicas relacionadas com grupos de extrema-direita, assédio sexual e racismo marcaram o seu percurso. Quando soube do resultado, Cathworn escreveu: “Chora mais, lib”, em referência aos progressistas.

Marjorie Taylor Greene, apoiante do QAnon

O QAnon nasceu nos últimos anos, disseminando a ideia de que existiria uma rede de pedófilos e satanistas infiltrada no governo, no mercado e nos media, com o objectivo de derrubar Donald Trump. E foi alinhada nesta ideia que Marjorie Taylor Greene, candidata republicana e proprietária da Taylor Commercial, uma empresa de construção, conseguiu um lugar no Congresso pelo estado da Geórgia, depois de vencer o democrata Kevin Van Ausdal com 74,8% dos votos.

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REUTERS/Elijah Nouvelage/File Photo

Apesar de ter moderado o discurso durante a campanha, ficaram no seu currículo episódios como o de quando disse que os tiroteios animam o pacato dia-a-dia de algumas povoações norte-americanas.

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