Desígnios nacionais e eleição do Presidente da República

A importância dos desígnios nacionais impõe que, na escolha existente, não hesite no voto em Marcelo Rebelo de Sousa.

O único órgão de soberania unipessoal é o Presidente da República. Por o ser, as competências que lhe são cometidas são condicionadas pelas características da personalidade do seu titular e pela visão politica que tenha. Para além de competências próprias, há as que hoje se desenvolvem de forma crescente nas instâncias internacionais, determinadas pela globalização. Neste último domínio, tem sempre uma palavra a dizer na afirmação de Portugal no mundo, que se alicerça sobretudo na diáspora, nas relações coma UE e ibero-americanas e ainda com a lusofonia, tendo por instrumento a língua e uma conceção universalista e tolerante do mundo.

Vivemos hoje um período histórico incerto, em que as causas e a necessidade da estratégia são secundarizadas pelo pragmatismo do poder, o que faz germinar o populismo. Neste novo mundo, cada vez mais complexo, a covid-19 veio acentuar entre nós grandes fragilidades, muitas causadas por erros próprios, alguns mesmo inimagináveis.

A realidade é, porém, o que é e os candidatos à futura eleição ao cargo de Presidente da República são os que existem e não os que cada um de nós desejaríamos que fossem. Porque é assim, e porque pela segunda vez consecutiva na história da democracia o PS vai, como tudo indica, dar liberdade de voto, a assunção da responsabilidade deste não está para qualquer militante condicionada à ponderação de uma escolha partidária.

Irei votar mas não como disse Alexandre O’Neill a propósito do PS – “ele não merece mas vota PS”. A próxima eleição não é em partidos e não sei transpor a rima da frase para a próxima eleição… O meu voto irá para o candidato Marcelo Rebelo de Sousa, por razões da própria razão.

Não seria de todo equacionável poder votar em candidato apoiado por um partido como o Chega ou em partidos políticos que são contra a UE, o PCP e também o BE, neste ultimo caso pela importância que nele tem uma corrente de opinião que nasceu contra a então CEE. Não o faria também no candidato da Iniciativa Liberal, porque a solução de futuro não está, como a pandemia colocou a nu, que "a menos Estado corresponde melhor Estado”.

De igual modo não votaria na candidata, com reconhecida coragem, que, por ter sido diplomata, não podia ter militância partidária mas que no início da formação do PRD me pareceu, pelo seu percurso, ter sido “compagnon de route” deste partido, constituído para prejudicar o PS. O PS foi muito afetado pelo PRD nas eleições de 1985 e não o foi mais pela corajosa e vitoriosa candidatura de Mário Soares a Presidente da República, em 1986, e à decisão que tomou de, no seu primeiro mandato, dissolver a Assembleia da República, sendo líder do PS Vítor Constâncio. Esta é, porém, uma questão de avaliação exclusivamente política, respeitando quem se apresenta a sufrágio mas, sobretudo, os candidatos que militam em partidos que fundaram a democracia.

Marcelo Rebelo de Sousa, que por tudo e por nada esbanja afetos e não se contém perante um microfone, admito que se corrija no próximo mandato. A questão é menor no que está em causa. Neste mundo global e aberto, o facto de ele ser um europeísta convicto e um lusófono assumido, reconhecido por cada um dos nossos povos e países, é muito importante.

Ele saberá seguramente contribuir para uma estratégia de aprofundamento da afirmação de Portugal no mundo, se sair vitorioso, evitando que se ultrapassem linhas vermelhas de defesa da soberania, com que aqui e além se transigiu, inclusive na imponderada venda de empresas estratégicas de domínio nacional tão importantes para a politica de cooperação. Estas e outras questões respeitam a desígnios nacionais e não são de somenos.

É justo sublinhar que, entre outros factos, Marcelo Rebelo de Sousa evidenciou independência no atual mandato ao ponto de empossar e manter um Governo apoiado pela esquerda. No futuro, em que as respostas poderão ter de passar pela ponderação de soluções de salvação nacional, não vejo outra solução que não a de votar em Marcelo Rebelo de Sousa.

São, pois, razões de interesse nacional, num quadro internacional e nacional complexíssimo e muito incerto, que me levam a dar-lhe o meu voto perante as candidaturas que se apresentam e que, desejo, contribuam para debates esclarecedores com os olhos postos no futuro. Este quadro, muito difícil, não será ultrapassado com “bazucas”, porque vai ser necessário haver golpes de asa e de alma mobilizadores dos portugueses e que estão para além da conjuntura.

A importância dos desígnios nacionais impõe que, na escolha existente, não hesite no voto em Marcelo Rebelo de Sousa.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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