O Porto recolhido em casa numa noite temporariamente encerrada

No primeiro dia da implementação de novas medidas de restrição o Porto cumpriu horários e às 22h já estava de luz apagada.

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Ainda não são 22h e nesta quarta-feira, em noite forte para os estudantes universitários do Porto, as esplanadas da Praça de Parada Leitão já estão desmontadas. É ali que está o café Piolho, ponto de encontro para a academia portuense em noites como esta, faça chuva ou frio. Mas os tempos são diferentes e os hábitos ajustam-se às necessidades. Por isso, ao primeiro dia da implementação de novas medidas de restrição, as pessoas que circulam nas ruas depois do horário de fecho dos estabelecimentos contam-se pelos dedos. 

Com o ponteiro do relógio a bater nas 22h tira-se o último fino ao balcão para levar à mesa do único casal que está dentro do estabelecimento. No máximo até às 22h30 as luzes têm de estar apagadas. Nas imediações o cenário é semelhante. Na rua Cândido dos Reis não há vivalma. Os funcionários de um dos vários restaurantes recolhem os aquecedores de exterior que não chegaram a aquecer mais do que meia dúzia de pessoas desde que o sol desapareceu. Naquela artéria de cidade onde habitualmente se concentrariam milhares de pessoas até de madrugada sobram apenas os estrados de madeira montados no Verão para servir de base a esplanadas, agora sem mesas e sem gente.

Ao lado, na rua Galeria de Paris, ouve-se o som de um copo de plástico a ser arrastado pelo vento nos paralelepípedos e passando pelas fachadas dos bares, todos eles encerrados. Pendurados por fios, suspensos no ar, parte de uma instalação de rua, estão manequins a guardar uma artéria que há um ano estaria em festa. O som do copo de plástico no chão jamais seria ouvido entre música e conversas. Nesta noite de silêncio ganha protagonismo. 

A poucos metros dali, nos Clérigos, apenas um casal desce em direcção aos Aliados. Em Carlos Alberto, mãos nos bolsos para aquecer do frio e cara tapada com máscara, um pequeno grupo segue em direcção a Cedofeita. Na rua das Oliveiras a única presença humana que se vê está ao volante de um carro vassoura com poucos despojos da noite para limpar.

Do outro lado dos Aliados, está Santa Catarina sozinha, cortada por Passos Manuel em silêncio e sem fluxo de gente em direcção à Praça dos Poveiros completamente despida. Na Batalha, frente ao teatro de São João, que a partir desta quarta-feira tem horários diferentes, também não há ninguém. Frente ao Rivoli, que como o Nacional marcará os espectáculos para as 19h30, está uma Praça D. João I onde o cenário é semelhante. 

Ainda não é meia-noite e a cidade está encerrada. O Porto está recolhido em casa a contar o tempo à espera de dias melhores.