O desporto não vive parado

Infelizmente, esta nova realidade está a obrigar a muitos sacrifícios; porém, não se pode encostar o desporto a um canto à espera que o futuro venha resolver todos os problemas da pandemia.

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Diogo Ventura

Foi a 2 de Novembro que o primeiro-ministro recebeu uma carta aberta do Comité Olímpico de Portugal, do Comité Paralímpico de Portugal e da Confederação do Desporto de Portugal face à pandemia de covid-19.

Não é uma surpresa para ninguém quando digo que o desporto vive tempos instáveis; no entanto, não deve ser encarado de ânimo leve o clima de dúvida que reina nas modalidades “não profissionais”. Dentro dessas aspas estão desportos como o basquetebol, o futsal, o hóquei ou o andebol, entre muitos outros.

Sei que não é um tema fácil de gerir, existe muita contestação em diversas áreas que estão a ser visadas pelas medidas restritivas. Infelizmente, esta nova realidade está a obrigar a muitos sacrifícios; porém, não se pode encostar o desporto a um canto à espera que o futuro venha resolver todos os problemas da pandemia. Não quero com isto estar a fazer comparações entre atletas, artistas e pequenos negócios, as dificuldades abrangem todo o país, apenas focar-me-ei nesta matéria do desporto.

É compreensível a ausência de público nos recintos desportivos, são menos um problema para se controlar, mas no que toca aos atletas é injusto verem as suas carreiras adiadas ou canceladas. O desporto envolve muitas rotinas e ainda mais competição. Como é possível estar ao mais alto nível de rendimento quando não existe uma meta ou um propósito para tal? Nem me refiro às condições que muitos destes atletas têm de aceitar para praticar a sua paixão, esse seria todo um outro tema, mas não apresentar medidas de apoio e recorrer simplesmente à cessação das modalidades é uma medida preguiçosa, egoísta e mostra o respeito que há para todos os homens e mulheres que elevam o desporto em Portugal.

Relembro que alguns clubes destas modalidades estão em competições europeias actualmente. Que imagem queremos passar para a Europa, onde já tivemos sucessos recentes, como no hóquei e no futsal?

Os clubes já atravessam períodos difíceis ao não poderem ter formação desportiva e muitos dependem disso para sobreviver. Fazer uma nova paragem pode ter consequências catastróficas para todos eles, a competição pode nunca voltar a ser atractiva quando estes acabarem por ter de fechar portas. Não faz sentido a predominância de um discurso sempre alusivo à importância do país não poder parar, onde se fala tanto da relevância das empresas, da cultura e do turismo, e colocar um travão no desporto.

É do senso comum que as modalidades não têm tanto interesse para os portugueses como o futebol (da primeira liga), mas, mesmo assim, estas mexem com muitos milhares de famílias e amantes do desporto, que vibram com os seus clubes e os seus atletas. Pode não ser o fim do mundo para Portugal caso uma nova paragem venha a acontecer, mas todos estes intervenientes merecem ser respeitados, especialmente aqueles que estão a dar o seu suor, sangue e lágrimas pelo seu desporto.

Compreendo que o Governo esteja sobrecarregado com queixas e duras críticas que, por vezes, podem parecer injustas, mas vivemos tempos muito delicados onde as emoções andam a ferver e a incerteza causa receio nas nossas vidas, o que torna cada decisão muito mais difícil de tomar. Mas o desporto não vive parado, é preciso pôr o país a mexer e criar medidas de apoio e de protecção. Evitar não é uma solução viável.

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