Autocarros turísticos vão reforçar oferta dos transportes públicos em Lisboa e no Porto

Veículos dedicados ao turismo que estão parados há oito meses devido à pandemia vão poder ser alugados pelas áreas metropolitanas para evitar a sobrelotação de certos percursos que sejam servidos por autocarros, mas também por comboios ou barcos. Reforço durará entre três a seis meses e custará 1,5 milhões de euros.

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Diogo Ventura

Os operadores privados já o tinham proposto ao Governo: alocar autocarros turísticos, de excursão, que se encontram há oito meses parados no parque das empresas, às carreiras regulares, reforçando assim a oferta de transporte público aos passageiros das áreas metropolitanas de Lisboa (AML) e do Porto (AMP) em momentos mais pressionados pela procura. A proposta prepara-se agora para avançar na próxima semana, prevendo-se que alguns autocarros possam já estar a circular. 

A garantia foi deixada esta quarta-feira pelo ministro do Ambiente, Matos Fernandes, na cerimónia de apresentação deste reforço da oferta do transporte público. Segundo o governante, esta situação deverá durar entre três e seis meses e será operacionalizado pelas áreas metropolitanas, uma vez que é quem conhece melhor o terreno e os períodos mais críticos de procura do transporte público. 

Este reforço acontece porque, mesmo com os transportes públicos a operarem praticamente todos com a oferta a 100%, há períodos do dia em que há alguns “estrangulamentos” em que a lotação máxima de 2/3 é ultrapassada. 

Apesar de se registar uma recuperação na procura — que chegou a atingir perdas na ordem dos 85% —, está ainda bem abaixo da registada no período pré-pandemia.

No Grande Porto, em Setembro, a procura pelos autocarros da STCP rondou os 69% face ao mesmo mês de 2019, tendo sido transportados 4,6 milhões de passageiros. No Metro do Porto, a procura ficou-se pelos 59% (face ao mesmo período do ano passado) e foram transportados 3,7 milhões de passageiros. 

Na região de Lisboa, também em Setembro, a procura no Metro de Lisboa situou-se nos 48% (6,9 milhões de passageiros), nos barcos da Transtejo e Soflusa nos 61% (um milhão de passageiros). Na CP, onde se registam sobretudo problemas de sobrelotação na linha de Sintra, a procura ficou-se pelos 60% (5,2 milhões de passageiros), na Fertagus nos 63% (1,3 milhões de passageiros) e na Metro Transportes do Sul nos 66% (900 mil passageiros). 

Reforço na rede ferroviária e rodoviária

Na prática, as áreas metropolitanas poderão contratar veículos de transporte rodoviários de operadores privados, e que não se encontrem em circulação, para reforçar a rede ferroviário e rodoviária. A medida envolve um investimento de 1,5 milhões de euros — 750 mil euros para cada área metropolitana —, suportado por verbas do Fundo Ambiental e, segundo revelou o secretário de Estado da Mobilidade, Eduardo Pinheiro, permitirão contratar 375 mil quilómetros e transportar cerca de um milhão de passageiros em cada região. 

Na apresentação, Eduardo Pinheiro referiu que estes autocarros vão, na Grande Lisboa, complementar a oferta da CP, da Fertagus e da Metro Transportes do Sul. E foram dados alguns exemplos do reforço: nos comboios, está previsto um reforço da oferta na hora de ponta da manhã entre as estações ferroviárias do Cacém e da Amadora e as estações de metro da Pontinha, Sete Rios e Entrecampos.

Na Fertagus, haverá autocarros directos entre a estação do Pragal e Lisboa entre as 6h20 e as 8h; no sentido inverso, a circulação será feita entre as 17h10 e as 18h10. Na Metro Transportes do Sul, haverá reforço nas viagens entre Corroios e Cacilhas entre as 7h20 e as 8h; entre as 16h e as 18h15 no regresso.

No Grande Porto, os autocarros reforçarão, essencialmente, a oferta da STCP. Serão reforçadas 17 linhas nos seis municípios que são servidos pela transportadora — Porto, Matosinhos, Maia, Valongo, Gondomar, Vila Nova de Gaia. Contudo, essa necessidade deverá ser regularmente monitorizada pelas áreas metropolitanas. 

Aos jornalistas, o presidente da Associação Nacional de Transportadores Rodoviários de Pesados de Passageiros (Antrop), Luís Cabaço Martins, detalhou que na AML estarão disponíveis cerca de 300 autocarros turísticos que poderão ser alocados a este reforço da oferta. Na AMP, serão entre 150 e 200. Um número “suficiente para acudir a esta necessidade”, considerou. 

A medida permitirá ainda retirar do regime de layoff motoristas que se encontram com cortes no rendimento há largos meses. Pelas contas de Cabaço Martins, há entre 400 a 500 motoristas que estão parados, sobretudo nas áreas metropolitanas. “Vamos trabalhar ao longo desta semana com as áreas metropolitanas e com os operadores que necessitam desse reforço, recolher as pessoas que estão em layoff e pôr os autocarros a funcionar para que, ao longo da próxima semana, consigamos concretizar este programa”, disse ainda. 

Transporte público “seguro”

Na cerimónia, que contou também com intervenções dos presidentes das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, Fernando Medina e Eduardo Vítor Rodrigues, os responsáveis referiram, por diversas vezes, a necessidade de restaurar a confiança dos passageiros no transporte público.

Como exemplo dessa desconfiança, o líder da AMP disse ter conversado com os três principais vendedores de automóveis da região, que assinalaram um “aumento no número de vendas de automóveis em segundo mão, a custos controlados”, em detrimento da compra de carros novos. O que lhe permite fazer a leitura de que as famílias da classe média estão a comprar automóveis para evitar o transporte público.

Este reforço da oferta, com recurso aos operadores privados, pretende “contrariar essa ideia” de que o transporte público não é seguro, notou.

“O que queremos é trazer pessoas para o transporte público, a espinha dorsal de todo o sistema de mobilidade”, disse o secretário da Mobilidade. Mais tarde, o ministro Matos Fernandes reforçou que “não há nenhum caso conhecido de infecção que tenha tido origem no transporte público”.

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