Paulo Gonzo estreia ao vivo no Porto e em Lisboa o seu disco de 2020: Essencial

Sem pisar um palco desde Fevereiro, Paulo Gonzo agora terá dois: o Pavilhão Rosa Mota e o Campo Pequeno. Como mote, um disco recém-editado, colectânea de 19 temas com três originais: Essencial.

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Paulo Gonzo MIGUEL COSTA/SONY

Dois concertos e um disco trazem Paulo Gonzo de novo à ribalta. O disco é uma colectânea de 19 temas, 16 em revisão de carreira e 3 originais, e os concertos estão marcados para o Pavilhão Rosa Mota (Porto), esta sexta-feira, e para o Campo Pequeno (Lisboa) no sábado, ambos às 21h.

O título do disco, que se antecipa a um projecto só de originais que a pandemia obrigou a adiar, adapta o da série The Essencial, marca registada da Sony, como diz Paulo Gonzo ao PÚBLICO: “Houve oportunidade para fazer um Essencial e pediram-me dois originais, para haver mais um motivo de interesse pelo disco.” E são eles que abrem o alinhamento, primeiro Quem foi e depois Está tudo bem. “Este foi escrito antes da pandemia, mas o nome não tem nada a ver com ela.” E há ainda um terceiro original, Diz que sim. “Já existia, mas nunca tinha saído em formato físico.”

A pandemia obrigou-o, tal como a todos os artistas, a refazer planos. “Já estava gravado, mas não estava masterizado, só pude acabá-lo uns três meses depois. Estes têm sido tempos muito duros e na minha área, onde só faz sentido estarmos presencialmente com as pessoas, nos concertos, tem sido muito complicado. O meu último espectáculo foi em 7 de Fevereiro, na Póvoa de Varzim! E já não ensaiava com os músicos há seis ou sete meses!” Mas há piores danos devidos à covid-19: “O facto de não haver qualquer tipo de suporte para esta situação, e não falo só dos músicos, mas de todas as pessoas que estão ligadas a este ofício, como os roadies, os engenheiros de som, de luz, toda aquela gente que não tem outro sustento e estar a passar por momentos muito maus.”

“Momentos muito especiais”

Os três originais do disco (Quem foi, Está tudo bem e Diz que sim) têm letra de Eugénia Ávila Ramos, que escreveu a primeira letra para Paulo Gonzo há 15 anos. “Ela nunca tinha escrito para mim, normalmente era o Pedro Malaquias, mas agora já está muito mais habituada. Costumo dar a música primeiro, não dou directriz nenhuma e vamos falando à medida que me vão entregando os temas. As coisas surgem assim, sempre fiz isso. Com o Pedro Malaquias ou o Jorge Palma. Penso num tema, evidentemente, e a partir da própria sonoridade dos instrumentos que vou utilizando, e dos tempos, já tenho uma ideia. Mas não a revelo a quem vai colaborar comigo.”

Os restantes 16 temas do disco surgem alinhados do mais recente para o mais antigo, de Amor maior e Sem ti, ambos de 2016 (este último com letra de Jorge Palma), até Pedras da calçada, de 1992, e So do I, editado em single em 1985 e que aqui surge numa versão posterior, de 2007. “Esse alinhamento foi feito de comum acordo com a editora. Há tantos temas e tantas canções que não se incluíram, que não era fácil fazer ir fazendo um alinhamento de outra forma.”

Quais destas canções lhe trarão melhores memórias? Paulo não arrisca uma escolha: “Todas elas me dizem muito. Aliás, uma coisa boa é que nunca fiz nada que não quisesse, nem a editora a isso me obrigou. Nunca houve encomendas. Estive sempre à vontade, nunca houve uma pressão ou uma indicação. Lembro-me, em relação a cada uma dessas canções, de momentos e situações, umas mais agradáveis e outras menos, mas todas elas têm momentos muito especiais.”

A selecção inclui três duetos: com a cantora e compositora brasileira Ana Carolina (Quem de nós dois) com a fadista Raquel Tavares (Amor maior) e com Lúcia Moniz (Leve beijo triste). “Com a Ana Carolina, era suposto eu fazer uma participação com ela no Brasil. Que não se concretizou.” Depois andaram desencontrados na escolha de canções, até que Paulo Gonzo sugeriu um tema que foi bem aceite pelos dois: a versão que ela e Antonio Villeroy fizeram de La mia storia tra le dita, dos italianos Gianluca Grignani e Massimo Luca. “Ela fez o arranjo que toda a gente conhece e eu disse que faria um novo arranjo, porque fiz todos os outros do disco Duetos [de 2013, onde o tema foi incluído]. Fiquei meio aflito, porque a responsabilidade era enorme.” Deu-lhe um toque soul, com maior acentuação nos refrões, enviou-o a Ana Carolina “e ela adorou”.

“Parecemos uns miúdos”

As experiências com Raquel Tavares e Lúcia Moniz também correram bem, diz Paulo Gonzo. “A Lúcia começou a participar em disco meus há muitos anos, fazia coros com a Isabel Campelo no Leve beijo triste. Este dueto aparece porque ir sair uma novela que se chamava Leve beijo triste, pediram à Sony uma gravação para o genérico e achei que seria uma boa altura para voltar a reencontrá-la, mas agora em dueto, o que foi muito interessante.” O encontro com Raquel Tavares também se deu devido a outra novela, Amor Maior. Era um tema dos brasileiros Jota Quest e Paulo fez uma versão só para a sua voz. Mas perguntaram-lhe o que acharia de gravar com Raquel Tavares esse dueto. “Eu não a conhecia, fui ouvi-la e quando a ouvi achei que era fadista, fadista a sério, aquilo era tudo garra e pulmões. Levei-a a estúdio, houve ali um processo de adaptação para a interpretação dela comigo, moldá-la em termos técnicos. Ela tem uma voz incrível e afina muito bem, mas em estúdio há que moldar as coisas também com o adversário.”

Nestes dois concertos, Paulo Gonzo terá consigo a sua banda: Paulo Sérgio e Rui Barreto nos teclados, Thierry Borges e Rui Fingers nas guitarras, Beto Garcia na bateria e Luciano no baixo. “Já não ensaiamos há tanto tempo que parecemos uns miúdos a quem deram um brinquedo”, diz Paulo Gonzo, feliz por voltar a tocar num palco. “Fiz um alinhamento para uma hora e meia mais encore. Já que não canto há muito tempo, ao menos deixem-me cantar um bocadinho!”

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