Assembleia espera há mais de ano e meio por estudos sobre linha circular do metro

Deputados analisaram em plenário uma petição que lhes chegou em Outubro de 2018, num momento em que a obra da está prestes a arrancar.

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Toda a oposição ao executivo socialista reafirmou velhas críticas ao processo Diogo Ventura

Mais de dois anos depois de ter chegado à Assembleia Municipal de Lisboa e com três fases da obra já adjudicadas, chegou esta terça-feira ao plenário uma petição contra a construção da nova linha circular do metro. Toda a oposição ao executivo socialista reafirmou velhas críticas ao processo e a maior visada foi a empresa pública de transportes, porque mais de um ano e meio depois de o presidente do Metro ter sido ali ouvido e de ter prometido divulgar documentos sobre a expansão, a assembleia ainda não recebeu nada.

“Assinala-se com desagrado o não envio pela administração do metro, tal como se prontificou, dos estudos que terá disponíveis relativos à expansão da rede do metro”, disse Francisco Domingues, deputado do PSD que redigiu o extenso relatório sobre a petição.

Pela 8.ª Comissão da assembleia, onde o assunto foi trabalhado nestes dois anos, passaram o presidente do Metro, Vítor Santos, mas também especialistas em mobilidade e transportes como José Manuel Viegas e Álvaro Costa.

Vítor Santos esteve com os deputados em Janeiro de 2019 e defendeu a linha circular por ser a opção que, de acordo com os estudos feitos pela empresa, mais garante a diminuição do número de carros na cidade. Mas os estudos não chegaram até hoje à assembleia e a sua versão completa também não é pública.

“Os estudos não foram entregues porque viriam demonstrar a justeza daquilo que os peticionários aqui demonstraram”, disse Miguel Santos, do PAN.

No início da discussão, Mário Lopes, professor do Técnico e primeiro subscritor da petição, acusou o Metro, o Governo e a Câmara de Lisboa de apresentarem “argumentos mal fundamentados” que “não correspondem à verdade” e de terem promovido uma “consulta pública que foi uma encenação”, uma vez que todos os argumentos contrários à linha circular “foram ignorados”.

O engenheiro civil disse que os estudos que levaram a esta decisão compararam opções não comparáveis (linha circular vs. Extensão da Linha Vermelha entre São Sebastião e Campo de Ourique), o que no seu entender demonstra que “nada disto está motivado por critérios de interesse público”.

João Valente Pires, deputado do PS, reagiu com dureza. “A verdade não existe só de um lado. O senhor peticionário tem a sua opinião, mas há outros técnicos que têm opinião diferente. Não lhe fica bem destratar as pessoas que não comungam da mesma decisão dos senhores”, disse.

“Conto pelos dedos de uma mão os técnicos que sustentam esta posição e ainda assim são os contratados pelo metro”, diria mais tarde António Prôa, do PSD, também presidente da 8ª Comissão, que se desculpou pela demora na análise à petição. Este, acrescentou, é “um processo que todo ele se reveste de enorme opacidade” pois “ainda hoje a fundamentação da decisão não existe”.

“Nós não podemos, nesta assembleia, sempre que há assuntos delicados para a câmara, para o Governo ou para o Partido Socialista, haja areia nos trabalhos. Há prazos a cumprir”, afirmou Fernando Correia, do PCP. “Enquanto nós discutíamos foram lançados os concursos e adjudicados. Até já têm visto do Tribunal de Contas. É um processo perfeitamente irreversível”, constatou.

Ricardo Moreira, do BE, afirmou que “a linha circular é considerada um erro por toda a gente​” e que se trata de “um investimento megalómano, que para além de tornar a cidade intransitável nos próximos quatro anos, depois não melhora as condições de mobilidade​”.

Já Margarida Penedos, do CDS, considerou que “as decisões políticas têm de ser bem sustentadas tecnicamente​” e que, neste caso, tal não aconteceu. “A linha circular ignorou os movimentos pendulares das pessoas que entram e saem da cidade​​.

Tal como os subscritores da petição, em que estão o ex-candidato presidencial Henrique Neto, os especialistas em mobilidade Fernando Nunes da Silva, Fernando Santos e Silva e Luís Cabral da Silva e mais 1100 pessoas, vários partidos da oposição defendem que a extensão do metro a Alcântara seria mais vantajosa do que a linha circular e que a futura configuração da Linha Amarela, ligando Odivelas a Telheiras, vai tornar o metro menos atractivo para quem habita a norte de Lisboa.

Carlos Castro, vereador encarregado de representar a Câmara neste debate, respondeu que “esta linha não é do partido A, do partido B ou do partido C, é uma melhor capacidade de resposta para a cidade e para a área metropolitana”. O eleito disse ainda que a extensão da Linha Vermelha a Alcântara, passando por Campolide e Campo de Ourique, é um projecto que estará no próximo quadro comunitário de apoio, a concretizar até 2030.

“Eu estava na assembleia municipal quando em 1994 se apreciou o Plano de Pormenor das Amoreiras e já se assinalava como urgente a extensão do metro para aquela área”, lembrou António Prôa.

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