A taxa de letalidade da covid-19 tem vindo a diminuir

Provavelmente, haverá ainda uma subcontagem do verdadeiro número de casos, o que terá influência nas taxas de letalidade e mortalidade da covid-19.

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Hospital de São João a 14 de Abril Manuel Roberto

As taxas de letalidade da covid-19 pelo mundo têm vindo a diminuir, sobretudo desde o aumento generalizado de casos que se tem observado desde o Verão. Mas estamos em plena pandemia e os números ainda podem mudar muito. Como tem evoluído a letalidade da covid-19 em Portugal?

Na taxa de letalidade calcula-se a percentagem de óbitos de todos os casos confirmados como positivos de uma doença, o que está associado à gravidade dessa doença no geral. Através da sua análise, podem surgir questões sobre se se está a diagnosticar toda a gente. No fim de Outubro, essa taxa em Portugal estava por volta dos 1,9%. De acordo com o biomatemático Ruy Ribeiro, agora no Laboratório Nacional de Los Alamos (EUA), esta taxa em Portugal atingiu o seu máximo no início de Julho com valores superiores a 4,2%. “Desde então, tem vindo sempre a diminuir à medida que os casos aumentam mais depressa do que os óbitos”, nota, salvaguardando que nas últimas duas a três semanas temos visto os casos a subir e não se sabe a sua percentagem de óbitos. 

Já na taxa de mortalidade calcula-se o número de óbitos por total da população e dá-nos uma ideia do peso que a doença tem no país em termos de mortes. Em Portugal, essa taxa para a covid-19 é agora de 23,1 por 100 mil habitantes e tem vindo a crescer (pois é a única tendência possível quando os óbitos acumulados aumentam). O biomatemático indica que o ritmo de crescimento aumentou um pouco em Outubro depois de um crescimento relativamente lento nos meses de Verão e de crescimentos rápidos em Abril. 

Ruy Ribeiro salvaguarda que, provavelmente, haverá ainda uma “subcontagem do verdadeiro número de casos”, o que terá influência nestas taxas. Quanto aos factores que contribuíram para a evolução destas taxas, o biomatemático baseia-se na “perspectiva da epidemiologia que tem desta doença” e refere que houve uma mudança no perfil dos infectados para pessoas mais jovens, o que diminui a letalidade. Além disso, pode haver agora mais cuidados na aplicação das regras pelos mais velhos, e, com saída do confinamento, as pessoas mais expostas tendem a ser as mais novas e melhorou o tratamento dos casos mais graves.

Pelo mundo, as taxas de letalidade e mortalidade dependem do número de testes feitos ou do acesso a sistemas de saúde que possam dar resposta aos casos mais graves. Por exemplo, na Europa, em países com mais de cinco milhões de habitantes, a letalidade varia entre 0,38% na Eslováquia e de 1,1% na Áustria, até 6,4% em Itália, 5% na Suécia, 4,8% no Reino Unido e cerca de 3% em Espanha.

“As taxas de letalidade têm vindo a diminuir, especialmente com o aumento generalizado de casos que se observou desde o fim do Verão”, esclarece Ruy Ribeiro. O biomatemático diz que há duas questões importantes que podem ter impacto neste valor no futuro: uma grande proporção dos casos mais recentes em que ainda não se conhecem os óbitos; e a preocupação da sobrecarga dos serviços de saúde, que pode levar ao aumento da letalidade.

Também a mortalidade noutros países “é muito variável”, diz Ruy Ribeiro, e vai desde 3,4 por 100 mil habitantes na Eslováquia, 5,2 por 100 mil na Noruega ou 5,8 por 100 mil na Grécia até aos 95,1 por 100 mil na Bélgica, 75,8 por 100 mil em Espanha e 67,2 por 100 mil no Reino Unido.

Um exemplo interessante pode ser o da República Checa, um país com um nível económico ou número da população semelhante ao de Portugal. Na Primavera e início do Verão, a expansão da epidemia no país foi “muito controlada”, mas agora já tem 290 mil casos, mais do dobro de Portugal, uma letalidade de 0,9% (menos de metade da de Portugal), mas uma mortalidade mais elevada de 24,5 por 100 mil habitantes. O número dos testes é inferior ao de Portugal. Esse aumento pode estar ligado ao relaxamento das medidas de contenção na primeira vaga ou à subida do número de testes.

O biomatemático destaca que é também importante ter uma ideia do número de testes realizados. Nos países da Europa com mais de cinco milhões de habitantes Portugal está em 7.º lugar com 0,32 testes por habitante. Já o Reino Unido tem 0,48, a Espanha 0,36, mas a Grécia tem 0,16 ou a República Checa 0,20. Há ainda uma taxa em que compara as mortes e os testes realizados: Portugal tem cerca de 73,5 óbitos por 100 mil testes. Os países com os melhores resultados são a Dinamarca com 14,1 óbitos por 100 mil testes ou a Noruega 17,7. Os piores são a Suécia com 285,7; a Itália com 250,2; e a Bélgica com 236,2. “Países como a Suécia e a Bélgica têm valores elevados para os óbitos, o que pode depender da definição de ‘morte por covid’”, refere.

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