O fim-de-semana de João na Polónia é um álbum de liberdades suspensas

João Miranda
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Só na segunda noite em Cracóvia é que ele se aproximou das buzinas e gritos que ouvira à chegada. Às escuras, na mesma praça onde tinha passeado quase sozinho durante o dia, João Miranda estava agora rodeado de manifestantes. 

O estudante aveirense (e filho do fotojornalista do PÚBLICO Adriano Miranda) fotografou um dos protestos que há uma semana levam milhares de polacos às ruas, numa resposta efervescente à decisão do Tribunal Constitucional de considerar o aborto inconstitucional até em casos de malformação do feto. 

Esta não é a primeira vaga de manifestações pelos direitos reprodutivos das mulheres no país europeu onde abortar legalmente e de forma segura se torna quase impossível.

Com as restrições impostas para travar a pandemia, os monumentos fechados e os ecos acusatórios do primeiro-ministro polaco, que relaciona o aumento dos casos de infecção por SARS-CoV-2 com as manifestações, João Miranda olhava para as fotografias das férias e "não via um diário de viagem". "Toda a viagem teve sempre uma certa quietude envolvida, fosse pela ausência de pessoas nas ruas, nas praças, nos mercados, fosse pelo silêncio impetuoso que domina naquele que é um dos lugares mais atrozes da nossa história", diz. 

Nas fotografias de Cracóvia deserta, de cartazes pelo direito à escolha das mulheres e, "ainda de forma mais evidente", nas imagens dos campos de concentração que visitou, João via "só um tema: a falta de liberdade(s)". Uma recordação estranha de um fim-de-semana fora — mesmo para 2020. "Uma mulher escreveu num cartaz 'No woman no kraj' (Sem mulher não há país)", relembra, antes de concluir: "Sem liberdade não há humanidade."

João Miranda
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