Glenn Greenwald abandona o Intercept e acusa editores de “censura”

Jornalista diz ter sido impedido de publicar um artigo crítico de Joe Biden pelos editores do site que ajudou a fundar. Órgão de comunicação acusa Greenwald de distorcer os factos.

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Glenn Greenwald recebeu o Prémio Pullitzer em 2014 por causa da sua investigação sobre a NSA Adriano Machado

O co-fundador do site de investigação The Intercept, Glenn Greenwald, anunciou a sua demissão do órgão de comunicação, acusando os restantes editores de “censura” por terem impedido a publicação de um artigo seu sobre o candidato democrata à presidência dos Estados Unidos, Joe Biden.

O jornalista acusa a direcção do site de ter violado a sua “liberdade editorial” por se ter recusado a publicar um artigo seu sem que retirasse as “secções críticas” sobre Biden, um candidato “veementemente apoiado” pelos editores do The Intercept, de acordo com as suas próprias palavras.

Greenwald diz que o seu artigo “levanta questões críticas sobre a conduta de Biden” e incide sobre os negócios do seu filho Hunter na China e na Ucrânia. “Não contentes com o simples impedimento da publicação deste artigo no meio de comunicação que ajudei a fundar, estes editores do Intercept também exigiram que me abstivesse de exercer o meu direito contratual de publicar este texto noutra publicação qualquer”, explicou o jornalista norte-americano.

Greenwald notabilizou-se depois de ter publicado uma investigação sobre os mecanismos de espionagem ilegal levados a cabo pela Agência de Segurança Nacional (NSA), expostos por Edward Snowden, pelo qual foi premiado com o Prémio Pullitzer. Em 2013, fundou o The Intercept, um site de investigação que se descreve como um órgão de comunicação com a missão de “escrutinar os poderosos através de um jornalismo destemido e contraditório”.

Apesar de a sua demissão ter sido precipitada pela recusa em publicar o texto sobre Biden, o afastamento de Greenwald da linha editorial assumida nos tempos mais recentes pelo Intercept vinha de trás. O site que co-fundou em 2013 é “completamente irreconhecível”, diz o jornalista.

“As mesmas tendências de repressão, censura e homogeneidade ideológica que afligem a imprensa nacional de uma forma geral engoliram o órgão de comunicação que co-fundei, culminando na censura dos meus próprios artigos”, escreve Greenwald, que pretende publicar a sua investigação sobre Biden brevemente no Substack, um site de autopublicação onde também divulgou a sua carta de demissão.

As objecções de Greenwald são apontadas sobretudo ao quadro editorial do Intercept baseado nos EUA, e não à edição brasileira, país onde o jornalista vive há vários anos, e que publicou as investigações sobre as suspeitas de abusos cometidos pela justiça brasileira durante a Operação Lava-Jato.

O Intercept nega ter censurado o jornalista e acusa-o de “distorções e imprecisões”. A direcção do órgão não refere quais, mas garante que irá apresentar a sua versão. “Por agora, é importante deixar claro que o nosso objectivo em editar o seu trabalho era assegurar que seria rigoroso e justo”, afirma o site. O artigo de Greenwald, continua, era uma tentativa de “reciclar as acusações duvidosas de uma campanha política – a de Trump – e branqueá-las como jornalismo”.

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