Trump ataca voto por correspondência e insiste que vencedor deve ser declarado na noite eleitoral

Mais de 70 milhões americanos já votaram antecipadamente, 46 milhões deles por correspondência, o que pode levar a que os resultados finais levem alguns dias até serem apurados. Contrariando especialistas, Trump continua a insistir na tese de fraude eleitoral.

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Donald Trump num comício em Omaha, no Nebraska JONATHAN ERNST/Reuters
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Discurso de Joe Biden uma acção de campanha em Atlanta, na Georgia BRIAN SNYDER/Reuters

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a pôr em causa a integridade do sistema eleitoral, ao afirmar que seria “inapropriado” que os estados levassem vários dias a contar os votos por correspondência, defendendo que o vencedor deve ser declarado na noite das eleições, 3 de Novembro.

“Seria muito, muito apropriado e bastante agradável que o vencedor fosse declarado a 3 de Novembro, ao invés de estarem a ser contados votos durante duas semanas, o que é totalmente inapropriado, e eu não acredito que isso cumpra as nossas leis”, afirmou Donald Trump na terça-feira à noite, antes de partir em campanha para o Midwest.

As declarações do Presidente surgem numa altura em que mais de 70 milhões de norte-americanos, metade do total de votantes nas presidenciais de 2016, já votaram antecipadamente, em parte devido ao receio da pandemia de covid-19, tentando evitar grandes aglomerados no dia das eleições em que Trump (Partido Republicano) disputa a Casa Branca com Joe Biden (Partido Democrata).

Até ao momento, registaram-se mais de 46 milhões votos por correspondência, e o número vai aumentar até final desta semana, com os eleitores a recorrem sobretudo aos correios para enviar os seus boletins, para que sejam entregues até 3 de Novembro.

Devido ao elevado volume de votos por correspondência, ao contrário do que tem acontecido noutros anos, é cada vez mais provável que o vencedor das presidenciais não seja declarado logo na noite eleitoral, uma vez que a contagem total dos votos pode levar vários dias.

Segundo o The Washington Post, os especialistas esperam que este ano a percentagem de votos por correspondência varie entre os 50 a 70%, um valor muito superior aos 23% registados em 2016, o que faz com que, pela primeira vez na história, a maioria dos americanos vote antes do dia das eleições.

As regras de contagem dos votos variam de estado para estado. Em alguns casos, só são contados os votos que cheguem até ao encerramento das urnas, enquanto noutros os estados têm autorização para contabilizar os boletins que cheguem alguns dias depois, desde que enviados até ao 3 de Novembro. A própria contagem dos votos é feita a velocidades diferentes, com alguns estados a começarem a contagem apenas depois do encerramento das urnas.

Os casos da Pensilvânia e do Wisconsin, dois estados decisivos nestas eleições, já chegaram ao Supremo Tribunal dos Estados Unidos, com a mais alta instância judicial a decidir que, no primeiro caso, podem ser contabilizados os votos que cheguem por correio até três dias depois das eleições, enquanto no segundo caso os boletins que cheguem após 3 Novembro não podem ser contados, mesmo que enviados antes dessa data.

Com o voto antecipado a ser principalmente procurado por democratas, apesar do aumento de eleitores registados como republicanos nos últimos dias, Donald Trump tem insinuado repetidamente, sem apresentar provas, que o voto por correspondência leva a um aumento da fraude, apesar de os estudos nesta área indicarem que os casos de irregularidades são residuais.

A insistência de Trump já levou o Twitter a sinalizar mensagens do Presidente como falsas. Na segunda-feira, depois de Trump ter insinuado que existem “grandes problemas e discrepâncias com o voto por correspondência em todos os EUA”, a rede social sinalizou a publicação, referindo que os conteúdos da mesma “são contestáveis e podem ter informações incorrectas sobre como participar numa eleição”.

Candidatos em campanha

Depois de pôr novamente em causa o sistema eleitoral americano, Donald Trump fez campanha em três estados na terça-feira – Nebraska, Wisconsin e Michigan, os dois últimos estados que conquistou aos democratas em 2016.

No Wisconsin, Trump disse que “estas eleições são uma questão de sobrevivência económica” e voltou a apelar ao voto das mulheres dos subúrbios, um eleitorado que não lhe é favorável. “Os vossos maridos querem voltar a trabalhar, certo? Vamos fazer com que eles voltem ao trabalho”, disse Trump.

O Presidente norte-americano virou a agulha para a Kamala Harris, candidata a vice-presidente pelo Partido Democrata, insinuando que, se Biden for eleito, a senadora da Califórnia será convidado a substituir o democrata na presidência “três semanas depois”. “Não podemos deixar isso acontecer. Ela não vai ser a primeira mulher Presidente”, rematou.

Joe Biden, por seu turno, fez campanha na Georgia – onde os democratas não vencem desde 1992 –, deslocando-se a Warm Springs, onde o Presidente Franklin D. Roosevelt esteve a recuperar de poliomielite na década de 1920.

“Estou a concorrer como um democrata orgulhoso, mas vou governar como um Presidente americano. Vou trabalhar com os democratas e com os republicanos. Vou trabalhar com quem gosta e com quem não gosta de mim”, disse Biden, atacando a gestão da pandemia de Donald Trump, que considera uma “capitulação”.

O candidato do Partido Democrata insistiu na mensagem de que é necessário “curar” o país e “acabar com as divisões”. 

“Esta é a nossa oportunidade para sairmos da escuridão, das políticas agressivas dos últimos quatro anos. De escolhermos a esperança em vez do medo. A unidade em vez da divisão”, sublinhou Biden. “Sim, podemos restaurar a nossa alma e salvar o nosso país”, rematou.

Esta quarta-feira, Donald Trump tem dois comícios marcados no Arizona, um estado que tem dado a vitória aos republicanos desde 1996, mas cujas sondagens, este ano, dão uma curta vantagem a Joe Biden.

O candidato do Partido Democrata, por seu lado, vai reunir-se com especialistas em saúde e está previsto um discurso na sua casa, no Delaware, em que deverá expôr as suas políticas para combater a covid-19.

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