Qatar pede desculpa após Austrália denunciar testes ginecológicos forçados no Aeroporto de Doha

Autoridades forçaram passageiras a fazerem testes ginecológicos, depois de ter sido encontrado um bebé numa casa de banho do aeroporto. Governo australiano denunciou comportamento “inaceitável” e pediu justificações, Qatar respondeu com pedido de desculpas e com promessa de investigação “transparente”.

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Marise Payne, ministra dos Negócios Estrangeiros da Austrália, pediu explicações ao Qatar EPA

O Qatar apresentou um pedido desculpas à Austrália nesta quarta-feira, depois de o Governo australiano ter acusado as autoridades de Doha de submeterem várias australianas a testes ginecológicos forçados no Aeroporto Internacional de Hamad.

O incidente aconteceu no dia 2 de Outubro, quando foi encontrado um recém-nascido na casa de banho do aeroporto, dentro de um saco de plástico, num caixote do lixo.

Como não conseguiram identificar a mãe do bebé, segundo a denúncia feita pelo Governo australiano, as autoridades de Doha retiraram um número incerto de mulheres de dez voos, levando-as para uma ambulância, na pista do aeroporto, onde foram obrigadas a tirar a roupa e a fazerem testes ginecológicos, para verificar se alguma tinha dado à luz recentemente.

O Governo da Austrália diz que pelo menos 13 australianas e cinco mulheres de outras nacionalidades, que não foram reveladas, foram retiradas de um voo da Qatar Airways com destino a Sydney.

De acordo com a Reuters, a denúncia partiu de uma diplomata australiana que estava num dos voos — mas que não foi submetida a qualquer teste — e que ficou “absolutamente chocada” com o que presenciou.

A BBC acrescenta que várias mulheres apresentaram sinais de angústia após os incidentes, e que receberam apoio médico por parte do Governo australiano.

O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, disse que o tratamento aplicado às mulheres foi “inaceitável” e “horrendo”, e garantiu que o seu executivo vai continuar a exigir respostas ao Qatar.

No mesmo sentido, Marise Payne, ministra dos Negócios Estrangeiros da Austrália, denunciou o comportamento “grosseiramente impróprio” e “ofensivo” contra as mulheres australianas.

O número total de mulheres submetidas a testes ginecológicos nos restantes nove voos ainda não foi apurado; no entanto, o Governo australiano sublinha que “outros países afectados partilham absolutamente a posição e força das posições da Austrália”. A AFP refere que pelo menos uma das vítimas é francesa.

Com a pressão a aumentar, o Qatar reagiu nesta quarta-feira e, além de um pedido de desculpas, o primeiro-ministro do Qatar, Jaled bin Jalifa Al Thani, anunciou a abertura de uma investigação “abrangente e transparente”, cujos resultados serão partilhados internacionalmente.

“Ainda que o objectivo da urgência nas buscas fosse impedir que os autores de um crime horrível conseguissem escapar, o Estado do Qatar lamenta qualquer angústia ou violação das liberdades individuais que esta acção possa ter causado às viajantes”, lê-se num comunicado divulgado pelo Governo de Doha, que acrescentou que o bebé está a receber assistência médica e que a mãe ainda não foi identificada.

O incidente no Aeroporto de Doha foi condenado pela Human Rights Watch (HRW), que exigiu ao Qatar que proíba os exames ginecológicos forçados e examine as circunstâncias que levaram a que um bebé fosse abandonado num caixote do lixo.

No Qatar, as relações sexuais fora do casamento são criminalizadas, com os hospitais a serem obrigados a denunciar mulheres grávidas às autoridades, o que tem levado organizações de defesa dos direitos humanos, como a HRW, a criticarem um sistema penal “que não criminaliza a violência doméstica e a violação no casamento”.

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