Evo Morales quer regressar à Bolívia no dia 9

O plano do ex-Presidente é chegar ao local de onde partiu para o exílio exactamente um ano depois. O seu futuro pode passar pelo sindicalismo e pela criação de peixes.

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Evo Morales está exilado na Argentina há quase um ano Juan Ignacio Roncoroni/EPA

O ex-Presidente boliviano, Evo Morales, pretende regressar ao seu país no dia 9 de Novembro, um dia depois da tomada de posse do novo chefe de Estado, Luís Arce. “Vai ser um dia histórico”, antecipam os seus aliados.

Há uma forte expectativa quanto ao futuro de Morales, especialmente depois da vitória esmagadora do Movimento ao Socialismo (MAS) nas eleições presidenciais de 18 de Outubro. Esta semana, um tribunal suspendeu o mandado de captura emitido no final do ano passado contra o ex-Presidente, alvo de uma investigação por actos terroristas, abrindo caminho para que Morales possa regressar à Bolívia.

Morales demitiu-se em Novembro de 2019, pressionado pelo aparelho militar, depois de ter sido reeleito numas eleições contestadas pela oposição, que convocou manifestações em todo o país para denunciar os abusos cometidos pelas autoridades eleitorais. A demissão pôs fim a uma era que durou 13 anos, em que promoveu importantes reformas sociais, mas que terminaram após a sua decisão de se recandidatar, desafiando um referendo que chumbou o fim do limite de mandatos.

O antigo Presidente deu algumas pistas durante uma entrevista na televisão argentina sobre quando pretende voltar ao país. “Tenho uma proposta das organizações sociais para talvez entrar [na Bolívia] no dia 9 para chegar dia 11 a Chimoré”, disse Morales, sublinhando que se trata de uma data com significado.

“Porque no dia 11 de Novembro [de 2019] saí de Chimoré para salvar a minha vida. Agora regresso pela vida, graças à unidade do povo boliviano”, explicou Evo Morales, referindo-se à sua fuga da Bolívia no ano passado, quando estava iminente a sua prisão.

Morales refugiou-se inicialmente no México e depois na Argentina, onde se encontra actualmente. O Governo interino de Jeanine Añez moveu uma série de processos contra o ex-Presidente e outros dirigentes do MAS, algo que foi denunciado por organismos como a Human Rights Watch como politização da justiça.

Apesar da suspensão do mandado de captura, o Ministério Público boliviano reafirmou a intenção de prosseguir as investigações à suspeita do apoio dado por Morales ao bloqueio de estradas para criar uma situação de caos no país, após a sua deposição pelas Forças Armadas. A defesa garante que não se trata da voz de Morales na gravação de um telefonema em que o Ministério Público se baseia.

O provável regresso de Morales à Bolívia está a ser aguardado com alegria pelos seus aliados. O senador Andrónico Rodríguez disse, ao canal Telesur, que será “um dia histórico” e prometeu concentrações para receber o “líder histórico”.

O ex-Presidente está convicto de que a América Latina vai voltar a assistir a uma nova onda de governos de esquerda, à semelhança do que aconteceu na década passada. “Não percam a esperança de que vamos voltar aos tempos de Néstor Kirchner, Hugo Chávez, Luiz Inácio Lula da Silva e Rafael Correa”, afirmou Morales.

Arce, que foi ministro da Economia dos governos de Morales, pouco falou sobre o regresso do ex-Presidente e ainda menos sobre uma hipotética inclusão no novo executivo. O próprio Morales descarta vir a desempenhar qualquer cargo governativo, garantindo que irá voltar às funções sindicais. Também pretende dedicar mais tempo à piscicultura. “Está muito na moda o tambaqui”, afirmou.

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