Taxistas e empregados de escritório: o que fazem os membros da família real de Singapura

“Não somos uma dinastia. Não importa se somos ou não descendentes da família real”, reage Tengku Indra, um consultor de 67 anos que viveu no palácio quando criança.

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Reuters/EDGAR SU
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A mulher de Faizal tem um part-time Reuters/EDGAR SU
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Tengku Faizal é taxista Reuters/EDGAR SU
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Tengku Shawal com as duas filhas Reuters/EDGAR SU
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Tengku Indra com o filho Reuters/EDGAR SU

Na república de Singapura, várias pessoas aparentemente comuns, que trabalham em escritórios ou conduzem táxis, alegam ter sangue real porque são descendentes de um monarca do século XIX, aquele que cedeu o controlo daquela ilha do sudeste asiático aos britânicos.

Mas poucos residentes de uma das cidades mais cosmopolitas do mundo conhecem esta linhagem. “Eles ainda existem?” é uma das perguntas que Shawal, de 51 anos, mais ouve quando diz a alguém que é um dos descendentes do sultão Hussein Shah — cujos tratados com os britânicos levaram ao domínio colonial e, mais tarde, à fundação do país.

Shawal é um dos vários singapurianos que carregam o nome honorífico de Tengku, que significa príncipe ou princesa em malaio, e afirmam ter ligações com o sultão. Até há alguns anos, alguns deles ainda viviam na sua casa ancestral, um palácio cheio e dilapidado, antes de serem despejados pelo governo, que o transformou num museu.

Pelo menos 79 descendentes, dos quais 14 viviam no palácio, receberam pagamentos como parte do acordo da era colonial para sustentar a família do sultão, revelou o governo na altura. Muitos deles viviam no estrangeiro, disse. Os nomes dos beneficiários legais nunca foram divulgados. O governo de Singapura, que tem governado ininterruptamente desde a independência da cidade-estado em 1965, disse à Reuters que todos os pagamentos, excepto um, foram feitos.

“Não é uma dinastia”

Tengku Shawal, que mostrou a correspondência com o governo à Reuters, que o identifica como um dos beneficiários, ainda visita regularmente o palácio-museu, a sua mesquita e o cemitério próximos, no enclave malaio da cidade-estado chamado Kampong Glam.

Apesar de enfrentar problemas pessoais devido à pandemia do coronavírus, Shawal diz que dedica muito do seu tempo a manter viva a herança do sultão, vestindo trajes reais tradicionais e participando em eventos comemorativos. Mas obter um reconhecimento mais alargado é um desafio.

Outros descendentes não concordam com a forma como Shawal gere esta questão e alertam para os perigos de viver no passado, estando particularmente preocupados com as adversidades do presente. “Não somos uma dinastia. Não importa se somos ou não descendentes da família real”, reage Tengku Indra, um consultor de 67 anos que viveu no palácio quando criança.

“O que é importante é que a pessoa ganhe a sua vida por meritocracia e não por desfrutar de um status atribuído com base na posição ancestral”, continua Indra, que é tetraneto do Sultão Hussein.

O filho de Indra — o empresário Tengku Azan, de 40 anos, tem uma filha de dois anos que seria uma das descendentes mais novas — considera que as gerações futuras não terão muito interesse na história do sultão. “O passado inadvertidamente fica em segundo plano”, avalia.

Para outros ex-residentes do palácio, a vida no mundo exterior foi um rude despertar. Tengku Faizal, 43 anos, conta que depois de deixar o palácio em 1999, conseguiu um emprego como porteiro num condomínio e é gozado porque é um príncipe que lida com o lixo. Actualmente é taxista e a mulher tem um part-time num restaurante de fast-food, além de receberem um subsídio para a creche da filha. “Não somos inteligentes, não somos ricos”, resume Faizal, em inglês. “Temos apenas o título.”

Dos sete pretendentes de Singapura entrevistados pela Reuters, Shawal é o que está mais preso à herança. Contudo, não passou o título real à filha quando esta nasceu porque tinha dúvidas. Agora, aos 27 anos, e trabalhando para uma empresa de biotecnologia, a princesa Puteri recuperou seu nome Tengku, embora reconheça que seja difícil explicar a sua ascendência num país em que grande parte das pessoas esqueceu essa parte da história.

“Uma parte de mim sente-se triste porque preciso de explicar quem sou. Mas quando olham para o príncipe Harry, sabem que ele é um príncipe”, logo, a sua expectativa é que o mesmo se passe com ela.

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