Teatro Nacional de São Carlos inicia 110 dias de obras de restauro da fachada

Obras terão de ficar prontas em Dezembro, para o tradicional Concerto de Natal com a Orquestra Sinfónica Portuguesa. Até lá, tanto o Coro como a Orquestra actuarão fora do teatro. A ópera só voltará a este palco lírico no próximo ano.

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Pedro Cunha/ Arquivo

As obras de restauro, limpeza, conservação e requalificação da fachada do Teatro Nacional de S. Carlos (TNSC), em Lisboa, foram iniciadas esta quarta-feira, como ponto de partida de uma intervenção de requalificação geral, a prolongar-se por dois anos, deste monumento nacional.

As obras na fachada, orçadas em 170 mil euros (com IVA), deverão terminar dentro de 110 dias, disse à agência Lusa a presidente do Conselho de Administração do Organismo de Produção Artística (Opart), Conceição Amaral, entidade que tutela o TNSC. Estas obras são acções correctivas e preventivas, visando solucionar alguns problemas identificados e resultantes da exposição do edifício às condições ambientais, adiantou.

A fachada do teatro, em pedra de lioz, mantém os traços arquitectónicos iniciais do edifício inaugurado em Junho de 1793. Segundo o TNSC, na fachada do teatro, há a limpar a sujidade acumulada, arranjar as fissuras no tecto da arcada e as zonas de superfície em pedra que estão danificadas, substituir a madeira das caixilharias, já degradada, fazer o tratamento de ferragens oxidadas e rever o envelhecimento de massas e outros materiais.

Ao longo deste período também serão desenvolvidas acções correctivas e preventivas, com o objectivo de solucionar os vários tipos de problemas identificados e que resultam da exposição do edifício às condições ambientais, da falta de manutenção e de intervenção humana, segundo o teatro.

As obras contam com o mecenato da Fundação Mirpuri, no âmbito de um protocolo firmado pelas duas entidades em 2018. E o papel que o mecenato pode desempenhar, não só no TNSC, foi sublinhado por Conceição Amaral, que defendeu que “o mecenas tem de ser um filantropo”.

Para a responsável, em declarações à agência Lusa, “há que dar garantias para atrair os mecenas, e não recorrer a eles apenas quando são mais necessários”. O mecenato deve ser um compromisso da sociedade civil com o património cultural que herdámos e que todos temos de cuidar, defendeu a presidente do Opart.

No horizonte do actual conselho de administração, estão outras obras, nomeadamente no interior do teatro, como a renovação dos dourados e tratamento de estuques, que estarão a cargo da Fundação Ricardo Espírito Santo Silva.

Até ao final do ano, será feita uma intervenção no “piso zero” do teatro, não incluindo a sala, “apenas nos espaços comuns”, orçada em 40.000 euros. No tocante ao interior, a responsável afirmou mesmo que a situação era “decadente”.

Outra intervenção prevista é a renovação do pano de ferro, o obliterador de cena, já que o actual data da década de 1940 e pesa 20 toneladas. Este pano de ferro será substituído por um outro, com menos de metade do peso do actual, “o que é significativo para toda a estrutura do edifício”, salientou Conceição Amaral. A colocação de um novo pano de ferro está orçada em 110 mil euros (com IVA).

“Estas obras – a nível do piso zero e do pano de ferro – têm de estar prontas em Dezembro, antes do habitual Concerto de Natal, com a Orquestra Sinfónica Portuguesa [OSP]”, afirmou. Até esse mês, tanto o Coro do TNSC como a OSP têm uma ampla programação fora do teatro, noutros concelhos além de Lisboa. A ópera só voltará a este palco lírico no próximo ano.

Conceição Amaral afirmou que a necessidade de obras de segurança no TNSC vinha já a ser assinalada por anteriores conselhos de administração do Opart.

Outro projecto em curso é o arquivo do TNSC, entendendo-se este como um repositório dos mais diferentes documentos relativos à prática operática, dos libretos e partituras, aos artefactos, cenários, fatos e figurinos, registos fotográficos e audiovisuais, entre outros elementos.

Conceição Amaral reconheceu que “há algum material à guarda de outras instituições”, como a Biblioteca Nacional, e defendeu a sua reunião num espaço, onde seja possível a consulta pública. Neste âmbito, Conceição Amaral chamou a atenção para a necessidade de se valorizarem as áreas oficinais da ópera, mantidas por costureiras, bordadoras, carpinteiros, marceneiros, entre outros ofícios, dos quais urge renovar os recursos humanos, afirmou.

O TNSC, no Chiado, em Lisboa, é um edifício de feições neoclássicas, de autoria do arquitecto José da Costa e Silva, que abriu portas em Junho de 1793. Em 1996, foi classificado como Monumento Nacional, sendo o único teatro lírico em Portugal.

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