Sete anos depois, o regresso dos Loosers (em som e imagem)

Nome fulcral do cenário musical português no dealbar da década passada, os lisboetas Loosers regressam às edições esta sexta-feira. Sete anos depois de Hot Jesus, chega Kill Screen. Um disco que se completa com os vídeos que acompanham cada uma das canções e que aqui revelamos em exclusivo.

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Kill Screen: os Loosers estão de regresso FRANCISCA TEIXEIRA

Esta sexta-feira marcará o regresso dos Loosers, banda determinante na criação de um novo espaço para a experimentação e exploração em contexto (vagamente) rock. A banda lisboeta que nos apareceu no dealbar do século como entusiasmante e inspiradora máquina viva onde se conjugavam sofreguidão rock, fúria punk, fervor de celebração ritualística e pulsão electrónica (ou primeva, de um tempo em que electrónica era palavra por inventar), regressa como nos habituou ao longo da carreira, ou seja, a encontrar novas formas de se exprimir. No caso de Kill Screen, assim se intitula o novo registo, o som não é apenas som, é também imagem. Com edição marcada para esta sexta-feira, exclusiva ao digital e com o selo Lovers & Lollypops, o novo disco dos Loosers surge em forma de cinco canções e cinco vídeos. Com as primeiras a inspirarem as segundas, forma-se uma obra conjunta que revelamos aqui em primeira mão.

Nos primeiros tempos, ao encaminharmo-nos para um concerto, nunca sabíamos com que Loosers nos iríamos deparar essa noite: os do ataque sónico e fervor rítmico pós-punk, ode à expressão eléctrica como partilha física, ou os da manipulação electrónica a fazer o seu caminho nos cérebros da audiência? Sete anos depois do álbum anterior, Hot Jesus, no momento em que nos preparamos para receber Kill Screen, gravado pela formação actual da banda, onde encontramos os fundadores José Miguel Rodrigues (bateria, percussão, loops) e Rui Dâmaso (guitarra, sintetizadores) ao lado de Jerry The Cat (voz) e Guilherme Canhão (baixo, sintetizadores), a surpresa chega ao mesmo tempo que a música.

A banda que se recusava anteriormente a registar vídeos, por considerar que isso desviaria a atenção do essencial, a música, fez agora um vídeo para cada uma das novas canções. Realizados por Edgar Pêra (Mean Street), João Ana (Throbbing), Miguel Soares (Get out of my head) e pelos próprios Loosers (My way e Hurt me, criados a partir de dois filmes do realizador alemão Lutz Mommartz, Ohne Titel e Social Sculpture, este último como que um screen test de Joseph Beuys), acrescentam uma nova camada a música que, como escrevemos na entrevista que será publicada no Ípsilon da próxima sexta-feira, “nos entra cabeça e olhos dentro enquanto estamos aqui, rodeados e dominados por ecrãs que nos irritam e entorpecem, presos no presente e temendo pelo futuro”.

Gravado à distância (outra primeira vez para os Loosers), quer antes, quer durante a pandemia, Kill Screen é um disco mais denso e mais electrónico, um disco de produção meticulosa na forma como traduz uma sensação de fúria e desespero enquanto se tacteia em busca de uma qualquer fonte de luz.

Ao falar de Ohne Titel, filmado a partir da janela de um hotel em Barcelona e que tem como centro uma mulher que aborda, sem percebermos com que propósito, as pessoas que passeiam por aquela rua nocturna das Ramblas, Lutz Mommartz referiu que, inicialmente, não sabia se o que registava na sua câmara era “uma performance ou a vida ela mesma”. Uma ideia que, de certa forma, podemos também aplicar ao que vemos e ouvimos no novo disco dos Loosers.

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