Covid-19: Raios UV demoram três a dez horas a eliminar coronavírus nas superfícies

No Verão, durante o dia, poderá não ser tão necessário desinfectar superfícies expostas, uma vez que a radiação solar ultravioleta faz essa tarefa de eliminar o vírus SARS-CoV-2.

Foto
O nosso Sol ESA

A radiação solar ultravioleta (UV) demora entre três a dez horas a eliminar o novo coronavírus das superfícies exteriores no Verão e mais de 20 horas no Inverno em cidades à latitude de Lisboa, segundo um estudo de investigadores portugueses.

O trabalho, a que a agência Lusa teve acesso, conseguiu demonstrar a eficácia da radiação UV na eliminação do novo coronavírus nas superfícies em várias latitudes, definindo valores para cidades como Lisboa, São Paulo (Brasil) ou Viena (Áustria).

A investigação, que arrancou durante o confinamento, resultou da cooperação entre o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), a Universidade de Medicina Veterinária de Viena (Áustria) e o Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde da Universidade do Porto e pretende ajudar a definir e ajustar políticas públicas.

“Construímos mapas da radiação solar UV que chega à superfície da Terra, a qual é efectiva para a inactivação do vírus. Embora fosse de há muito conhecido o efeito germicida da radiação UVC, faltava saber até que ponto a radiação solar UV que atinge a superfície do globo (UVA e UVB) era capaz de inactivar o SARS-CoV-2. Era uma suspeita, mas nunca se tinha avançado para verificar”, explica à Lusa a investigadora do IPMA Fernanda Carvalho.

“Quando falávamos que a radiação ultravioleta podia ter um papel importante na inactivação pensava-se que era apenas a ultravioleta C, usada a nível laboratorial para esterilizar superfícies, mas concluímos que a radiação solar que atinge a superfície da Terra também desempenha essa tarefa”, explicou.

Este foi o primeiro trabalho do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) publicado numa revista científica internacional (a Photochemistry and Photobiology) sobre a relação do SARS-CoV-2 e um elemento meteorológico, neste caso a radiação solar.

Fernanda Carvalho explicou o caminho seguido pelos investigadores neste trabalho, exemplificando: “Temos um período entre Março a Outubro, que é coincidente de maneira geral no Continente e ilhas, e no qual o índice ultravioleta é igual ou superior a seis (Alto). Em Lisboa, por exemplo, no Verão, em três a dez horas o vírus é eliminado pela radiação UV.”

“No Inverno, temos tempos para esterilização superiores a 20 horas. Um dia não chega para esterilizar superfícies no exterior”, disse a especialista.

Fernanda Carvalho dá ainda outros dois exemplos: “Em São Paulo, no Verão, a radiação ultravioleta leva entre meia hora a oito horas a eliminar o vírus. No Inverno, pode demorar um pouco mais, cerca de dez horas, mas o Inverno deles vai até ao limite superior do nosso Verão.”

Noutras latitudes, o efeito da radiação solar UV na eliminação do coronavírus é diferente. Segundo as conclusões a que os investigadores chegaram, em Viena (Áustria) - um dos autores do estudo é austríaco - a esterilização demora entre três a 30 horas e, no Inverno, o período de tempo é superior a 100 horas.

A intenção deste trabalho é ajudar a definir políticas públicas, ajustando-as para a época: “Se calhar, não interessava estar muito preocupado no Verão a desinfectar superfícies expostas ao sol na praia, como mobiliários de esplanadas, pois a radiação solar UV faz essa tarefa, mas seria importante concentrar esforços no período depois do pôr do sol”, explicou a especialista.

“Se calhar faz mais sentido ter uma política mais restritiva quando não há luz solar, tanto no Verão como no Inverno, já que agora estamos a caminhar muito rapidamente para a diminuição quer da intensidade, quer do número de horas com radiação solar; logo, aumenta o número de horas necessárias para o vírus ser inactivado”, acrescentou.

Fernanda Carvalho diz que, com este estudo, se provou que, de todos os trabalhos feitos sobre a influência dos factores meteorológicos sobre o novo coronavírus, a radiação solar UV é a mais eficaz na inactivação do vírus. “A humidade e a temperatura condicionam o vírus, mas através do comportamento das pessoas, pois quando está mais frio as pessoas estão mais em espaços fechados e, logo, há maior contágio.”

Sugerir correcção