Catarina Martins justifica voto contra do BE: “O pior que podemos fazer é colocar a cabeça na areia”

A coordenadora bloquista afasta a acusação de intransigência apontada ao partido e avisa que irá apresentar “as mesmas medidas” na especialidade.

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“Não é nossa ideia que este seja um Orçamento do BE”, garantiu Catarina Martins

O anúncio feito pelo Bloco de Esquerda sobre a intenção de votar contra a proposta do Orçamento do Estado para 2021 (OE 2021) foi mal recebido pelo Governo. Esta segunda-feira, em entrevista ao Jornal das 8 da TVI, Catarina Martins acabou por justificar a decisão do partido e responder às críticas, vincando que “o pior que se pode fazer” é “colocar a cabeça na areia” e não questionar as soluções que estão a ser desenhadas para o país. E mesmo que até quarta-feira algum partido à esquerda condicione a viabilização do Orçamento (que ficou confirmada esta segunda-feira) e volte a colocar o chumbo em cima da mesa, o Bloco não muda o sentido do voto.

A coordenadora do BE admitiu que existiram aproximações com o Governo em algumas matérias, mas que, nesta fase, foram insuficientes. Confrontada com o nível das exigências do caderno de encargos bloquista, Catarina Martins asseverou que “o BE não teve uma posição intransigente” e avisou que irá insistir nas mesmas medidas na discussão que terá lugar na fase de especialidade. Se o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares considera que o BE fechou a porta, Catarina Martins responde que a discussão é para continuar.

E mesmo apesar da avaliação negativa ao OE 2021 feita pela bancada bloquista, Catarina Martins diz estar na mesma página que António Costa em pelo menos uma matéria: na convicção de que “não é o orçamento que determina”, de forma fatal, se haverá ou não uma crise política no país.

Tal como tinha feito no momento em que anunciou o voto contra, a coordenadora do BE apontou divergências com o Governo nas questões da saúde e dos apoios sociais, duas áreas em que tinham sido anunciados progressos após a última reunião entre os bloquistas e os socialistas, na última terça-feira. “O BE não se pode comprometer com um Orçamento que faz com que o SNS para o ano esteja mais frágil e que haja menos protecção social quando o país precisa de mais”, justificou, exemplificando que a verba prevista para o SNS em 2021 será, à partida, menor do que foi no Orçamento Suplementar.

Apesar de a discussão sobre o valor da verba prevista para a saúde ter ocupado parte do dia, Catarina Martins quis deixar claro que “não tem só a ver com dinheiro”, mas com a aplicação do mesmo. E dá exemplos de desentendimentos em matérias sem impacto orçamental: a legislação laboral. “Não se compreende que o PS não aceite medidas tão pequenas e fundamentais como acabar com o despedimento barato, que tem sido a desgraça de tantos trabalhadores, quando o próprio PS era contra esta medida quando foi aprovada no tempo da troika. Sabe qual é o impacto orçamental desta medida? Zero”, argumentou.

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