Activista detido ao tentar retirar escultura indonésia do Museu do Louvre

Mwazulu Diyabanza alega que a acção de protesto no museu mais visitado do mundo faz parte de uma campanha política para promover a devolução de arte que chegou à Europa no período colonial.

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Sendo o museu mais visitado do mundo, o Louvre é um bom palco para dar visibilidade às acções de protesto de Mwazulu Diyabanza REGIS DUVIGNAU/REUTERS

A maioria dos activistas pela restituição de património às antigas colónias redige manifestos, faz petições na tentativa de pressionar os governos a agir ou escreve artigos de opinião nos jornais cuja mensagem amplifica, depois, através das redes sociais, procurando galvanizar a opinião pública. Outros, aparentemente mais adeptos da máxima “uma imagem vale mais do que mil palavras”, optam pela acção directa. O congolês Mwazulu Diyabanza faz parte desta última categoria.

Depois de uma acção semelhante no Museu do Quai Branly, em Junho, Diyabanza foi preso na passada quinta-feira no Museu do Louvre, em Paris, quando tentava retirar do seu lugar uma escultura indonésia do século XVIII no âmbito de mais uma acção de protesto, noticia o Artnet News, site especializado em notícias do mercado da arte.

Um vídeo disponibilizado na rede social Facebook mostra este activista de 42 anos a apear a escultura do seu plinto, sendo prontamente travado pelos seguranças do Louvre. 

Mwazulu Diyabanza foi então detido e depois presente a tribunal, encontrando-se já em liberdade. O seu julgamento está marcado para 3 de Dezembro e até lá está proibido de entrar em qualquer museu. 

Membro do movimento pan-africano Unité, Dignité et Courage (UDC), que tem vindo a trabalhar para que os museus europeus restituam aos países africanos a arte que de lá foi retirada durante o período colonial, Diyabanza tinha já sido detido a 12 de Junho, juntamente com outros militantes, no Museu do Quai Branly, também em Paris, após uma intervenção semelhante transmitida em directo no Facebook. O objecto então visado foi um vaso funerário do século XIX proveniente do Chade. 

O Museu do Quai Branly é um dos principais alvos de críticas de todos aqueles que em França se batem pela devolução de artefactos coloniais aos seus países de origem já que, de acordo com a televisão britânica BBC, tem à sua guarda cerca de 70 mil objectos provenientes da África subsariana. 

Dado o historial de Diyabanza e os argumentos apresentados pela sua defesa – o seu advogado argumentou que se tratava de um protesto político e não de uma tentativa de roubo –, o tribunal condenou o activista ao pagamento de uma multa de mil euros (os militantes que o ajudaram foram obrigados a pagar 500 euros), na tentativa de que se abstivesse de voltar ao mesmo tipo de protesto. Não resultou.

Diyabanza, que na sequência da acção de Junho se arriscava, no pior cenário, a uma pena de prisão de dez anos e a uma multa de 150 mil euros, diz-se agora “com medo” do que a justiça lhe pode reservar. 

O activista, que também já protagonizou acções como esta em Marselha e na Holanda, escreveu na sua página de Facebook: “Juntei toda a minha coragem para dar voz a todos os meus antepassados que, com inteligência e engenho, produziram estas obras.”

A propósito da acção no Quai Branly, Mwazulu Diyabanza explicara já à BBC o objectivo do UDC: “Queremos demonstrar do ponto de vista penal que as obras [do período colonial que estão nos museus] foram saqueadas, [que chegaram ali através de] actos condenáveis. Isto para restaurar a verdade histórica e para dizer à humanidade que, em nome da ética, não podemos dar razão a um ladrão, a um usurpador, a um prevaricador.”

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