Fred Martins está de volta aos palcos com um novo disco na bagagem: Ultramarino

O cantor e compositor brasileiro Fred Martins tem um álbum pronto a lançar ainda em 2020 e vai tocar este sábado num palco que lhe é familiar: o da Fábrica Braço de Prata, em Lisboa, às 22h.

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Fred Martins DR

Radicado na Europa desde 2010, o cantor, compositor e arranjador brasileiro Fred Martins tem um novo álbum em carteira e vai apresentar algumas das suas canções, junto com outras músicas que têm marcado a sua carreira este sábado, ao vivo, num palco que já lhe é familiar: o da Fábrica Braço de Prata, em Lisboa (às 22h), que foi um dos primeiros lugares onde tocou em Portugal, mesmo antes de se fixar na Europa, e onde em finais de Agosto (com os cuidados impostos pela pandemia) já se tinha apresentado em duo, acompanhado por Sandra Martins, no violoncelo.

Além de colaborações em muitos outros trabalhos, no Brasil e fora dele, Fred Martins tem sete discos em nome próprio: Janelas (2001), Raro e comum (2004), Tempo afora (2007), Guanabara (2009), Acrobata (2011, com a cantora e compositora galega Ugía Pedreira), Para Além do Muro do Meu Quintal (2016) e A Música É Meu País (2017), este gravado ao vivo e apenas publicado em DVD. O oitavo, Ultramarino, está pronto há meses, como diz Fred ao PÚBLICO, mas teve de ser adiado: “Foi gravado em 2019, ficou pronto em Fevereiro deste ano, mas depois veio a pandemia. Em Dezembro vai sair o primeiro single.” O álbum, que deverá sair no Brasil e na Europa até o final do ano, tem produção musical do venezuelano Hector Castillo (que trabalhou com David Bowie, Björk, Lou Reed ou Philip Glass).

Nascido em Niterói, em 14 de Junho de 1969, Fred Martins compõe desde 1980 para vários intérpretes, brasileiros mas também portugueses, e a lista dos que o cantam tem vindo a crescer com o tempo: Ney Matogrosso, Zélia Duncan, Maria Rita, MPB4, Adriana Calcanhotto, Renato Braz, Beth Bruno, Regina Machado, Paula Santoro, Susana Travassos ou Joana Amendoeira.

Agora, na Fábrica Braço de Prata, ele vai apresentar alguns desses temas: Novamente (parceria com Alexandre Lemos, gravada por Ney Matogrosso), Sem aviso (parceria com Francisco Bosco, gravada por Maria Rita), Flores (parceria com Marcelo Diniz, gravada por Zélia Duncan) e Noite de São João (poema de Fernando Pessoa musicado por Fred e cantado por Adriana Calcanhotto). A par deles, incluirá no espectáculo temas como Colibri, Águas passadas, Por um fio, O samba e Tempo afora, todos compostos de parceria com Marcelo Diniz; 996, que Fred compôs com Alexandre Lemos; Senzala, com André Sampaio; ou Dois Chicos, com Roberto Bozzetti.

E terá também alguns clássicos da bossa nova como Chega de saudade, A felicidade ou Brigas nunca mais, não só por razões históricas (“Foi João Gilberto, com Eu vim da Bahia, que me fez fazer música. Isso mudou a minha vida”, disse Fred ao PÚBLICO em 2016) mas também porque em 2019 ele fez uma série de espectáculos celebrando a bossa, dois deles com o violoncelista Jaques Morelenbaum, um no Jardim da Vigia, em Sintra, outro no Espaço Rua das Pretas, em Lisboa (e, antes, no Auditório do PÚBLICO).

“Vai ser um show diferente, um show pandémico, com músicas feitas nesse tempo de pausa. Enquanto o disco não saía, fui compondo novas canções. Uma chama-se O rancho da seita suicida e fala da pandemia no Brasil, do negacionismo, dos problemas que se estão a viver ali, com aquele governo louco; e outra é Barbarizando geral, que também fala dessas coisas.”

Na primeira destas canções, Fred diz: “É o rancho da seita suicida/ Que arrasta na rua/ Pela pandemia/ A peste do tal sacripanta/ Pilantra que espanta/ Qualquer alegria.” E na segunda podem ouvir-se estes versos: “Com tanta gente crente/ Que cretinamente é contra o diferente/ Os velhos ratos do mercado vão seguir barbarizando geral/ Enquanto o insano e podre bicho humano/ Vai entrando pelo cano/ Eu vou chorando minha tão sentida lágrima de crocodilo.”

Fazer um concerto agora, nestes tempos de pandemia, diz Fred, tem para ele um claro significado: “Significa resistência. Resistência moral, sobretudo. Não deixar a tristeza tomar conta. É uma afirmação da alegria, da música. E convidei músicos, o que também é muito importante neste contexto: Sami Tarik, percussionista, Fernando Baggio, bateria, e Rolando Semedo no baixo. Eu quis criar um show mais vigoroso em termos de ritmo, mais alegre, mais festivo, e com músicas mais ligadas ao samba, ao samba de roda, músicas de expressão da alegria, a alegria do povo do Brasil, um povo muito sofrido, mas que tem nessa música o remédio para qualquer problema.”

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