Morrer de problemas cardíacos durante o sexo é raro, mas acontece. Sabe o que fazer para evitar?

Estudo indica que menos de 1% das paragens cardiorrespiratórias estão relacionadas com a prática de relações sexuais, mas só num terço das vezes é que são aplicadas manobras de reanimação pelos parceiros.

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Maioria das vítimas tem histórico de doença cardiovascular Krista Mangulsone/Unsplash

Lançado esta semana, o livro de memórias Greenlights do actor Matthew McConaughey percorre momentos marcantes na sua vida. Entre os temas como a decisão de casar com a modelo brasileira Camila Alves, também aborda a morte do pai devido a uma paragem cardiorrespiratória enquanto tinha relações sexuais com a mãe.

“Rapazes, quando chegar a minha hora, eu vou partir fazendo amor com a vossa mãe.” A frase seria ouvida habitualmente pelos filhos de James Donald McConaughey, o pai do actor, até que morreu exactamente dessa forma em 1992, aos 63 anos. “Eu não conseguia acreditar. Era o meu pai. Nada nem ninguém conseguia matá-lo. Excepto a minha mãe”, escreve o autor galardoado com um Óscar em 2014. “Ele teve um ataque cardíaco durante o clímax”, esclarece.

De facto, a possibilidade existe, mas casos como o de James Donald McConaughey são raros. Num estudo publicado em 2017 pelo Journal of the American College of Cardiology, os resultados apontam para que menos de 1% das paragens cardiorrespiratórias estejam relacionados com o sexo. Os investigadores descreveram uma paragem cardiorrespiratória súbita — sudden cardiac arrest (SCA) em inglês — como “uma condição frequentemente letal” que se manifesta “no colapso e perda inesperada da pulsação”.

Como explica o SNS24, “as causas de uma paragem cardiorrespiratória podem ser diversas, mas as mais frequentes relacionam-se com o coração”, como alterações graves do ritmo cardíaco ou um enfarte agudo do miocárdio, também designado por ataque cardíaco, que não é o mesmo que uma paragem cardiorrespiratória, já que se refere a um bloqueio do fluxo de sangue para o coração. Uma paragem cardiorrespiratória faz com que a vítima possa ficar inconsciente, não responda ou não respire. Em Portugal, há cerca de meio milhão de pessoas que sofrem de insuficiência cardíaca que potencia as paragens em causa, e a tendência é para crescer, mesmo os sintomas ainda sejam pouco reconhecidos pelos portugueses. 

Durante a investigação, ao analisar mais de 4500 ocorrências de paragens cardiorrespiratórias entre 2002 e 2015 no estado de Portland, nos Estados Unidos, encontrou-se que apenas 34 delas se deram durante ou logo após a prática de relações sexuais, e sobretudo entre homens com historial de doença cardíaca. O estudo não analisou a frequência com que os pacientes tinham sexo, o tipo de relação sexual ou quanto tempo durou.

Segundo Sumeet Chugh, uma das autoras do estudo, os resultados mostram que as relações sexuais “obviamente não são tão extenuantes como se pensava”. Numa entrevista ao The Washington Post, a cardiologista diz-se feliz por poder dizer aos seus doentes que “o risco é bastante baixo”, já que antes do estudo “não havia dados” sobre a relação entre problemas cardíacos e a prática de sexo.

Mesmo que compreenda que possa existir receio entre quem tem um historial clínico, para Michael Joseph Blaha, director de investigação clínica no Centro de Prevenção de Doenças Cardíacas da Universidade Johns Hopkins, “a possibilidade de ter uma paragem cardiorrespiratória durante a actividade sexual é extremamente baixa”. No texto que assina publicado no site da universidade norte-americana acrescenta: “desde que não se tenha sintomas, não é causa de preocupação”. E quais são os sintomas? O médico enumera dores no peito, falta de ar, batimento cardíaco irregular e náuseas ou indigestão.

Apesar disso, Blaha admite que a possibilidade existe devido à actividade física que está associada em comparação com quando se está em repouso. “Contudo, para as pessoas com corações estáveis, os benefícios a longo prazo de actividade física regular, incluindo sexo, superam de longe os riscos”, sublinha o cardiologista.

Num aspecto os especialistas concordam: em caso de dúvida, deve ser consultado um profissional de saúde.

Se a probabilidade é reduzida, o maior problema é quando os casos efectivamente acontecem.Embora as paragens cardiorrespiratórias que ocorrem durante a actividade sexual sejam presenciados pelos parceiros, só num terço dos casos é que houve aplicação de manobras de suporte básico de vida”, confirma o estudo do Journal of the American College of Cardiology, o que “ajuda a explicar as pequenas taxas de sobrevivência”. Segundo a American Heart Association, as vítimas destas paragens perdem cerca de 10% de hipóteses de sobrevivência a cada minuto que não são aplicadas técnicas de reanimação.

Por isso, analisa a cardiologista Chugh ao The Washington Post, “é uma boa ideia” aprender a fazer essas manobras, mesmo que “seja constrangedor e difícil num cenário de paragem cardiorrespiratória durante a actividade sexual”.

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