Os dois corpos do Presidente

Para a história da iconografia política, em Portugal, é mais importante do que parece, à primeira vista, a fotografia do Presidente da República (de Daniel Rocha, no PÚBLICO de 19 de Outubro), de tronco nu, sentado num cadeirão azul, a ser vacinado contra a gripe por um enfermeiro. O tronco nu do presidente publicamente exibido não é uma novidade, vimo-lo já muitas vezes filmado e fotografado na praia. Mas aí, como acontece com todos os corpos na praia, ele quase se anula na sua corporalidade, é como se a pele fosse o fato do banhista e tivesse um efeito de ocultação (razão pela qual o nudismo é uma prática completamente anti-erótica); mas sentado no cadeirão, a ser picado no braço por um enfermeiro que ali ocupa o lugar do soberano, o Presidente de tronco nu apresenta-se sem dissimulações, sem filtros, e suscita um outro olhar. O que vemos, então? Um corpo naturalmente envelhecido e flácido (mas não exageradamente, para quem tem mais de 70 anos). Nada de obesidade, mas apenas um corpo em decadência, ainda que discreta, onde a carne e a pele estão sempre em excesso.

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