Embaixador português diz que luso-chinês detido na China é “jogo diplomático delicado”

José Augusto Duarte disse aos jornalistas, numa conferência de imprensa no consulado de Portugal em Macau, que detenção “é um jogo diplomático que exige muita paciência e muita determinação”.

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Embaixador José Augusto Duarte com Marcelo Rebelo de Sousa LUSA/MIGUEL A. LOPES

O embaixador de Portugal em Pequim afirmou hoje o processo do estudante universitário Tsz Lun Kok, detentor de passaporte português e chinês, detido na China continental, “é um jogo diplomático que é delicado”.

“É um jogo diplomático que é delicado e que exige muita paciência e muita determinação”, disse José Augusto Duarte aos jornalistas, numa conferência de imprensa no consulado de Portugal em Macau.

Os 12 detidos, a maioria ligados aos protestos anti-governamentais do ano passado, em Hong Kong, está detido há quase dois meses em Shenzhen, cidade chinesa adjacente a Hong Kong, por “travessia ilegal” das águas continentais. Dois detidos são ainda suspeitos de organizar a passagem ilegal da fronteira.

O grupo, que inclui o estudante universitário Tsz Lun Kok, detentor de passaporte português e chinês, tinha iniciado a viagem com destino a Taiwan, onde se pensa que procuravam asilo, quando a lancha em que seguiam foi interceptada, em 23 de Agosto, pela guarda costeira chinesa.

“Estamos a desenvolver uma actividade de contactos com as autoridades chinesas. Seguimos uma metodologia própria, que até agora tem sido alentadora, na esperança que é a melhor via para conseguir aquilo que mais se pretende”, ou seja, o tratamento humanitário, “dentro de um enquadramento legal”, frisou o embaixador.

O objectivo, reforçou, passa por “assegurar o melhor tratamento possível da pessoa e ao mesmo tempo fazê-lo de tal forma que não se feche as portas para o diálogo, para transmissão de opinião e para não criar uma polémica que atinja dados negativos sem nada de positivo em concreto”.

José Augusto Duarte considerou ainda que a estratégia portuguesa tem sido positiva porque se está a conseguir manter contactos regulares com as autoridades chinesas e isso é algo “pouco habitual”.

“Digo com toda a humildade que não tenho garantia sobre o resultado final, porque não é determinado pelo nosso lado”, indicou, reforçando, contudo, que o caminho seguido por Portugal é a melhor via para se garantir os resultados que se pretendem.

Segundo familiares dos detidos, desde a detenção nenhum dos activistas pôde contactar a família nem ter acesso a advogados mandatados pelos seus familiares, denunciando igualmente a nomeação de advogados oficiosos pelo Governo chinês.

O jovem, que tem nacionalidade portuguesa e chinesa, embora a China não reconheça a dupla nacionalidade, tinha já sido detido em 18 de Novembro em Hong Kong, e mais tarde libertado, durante o cerco da polícia à Universidade Politécnica daquele território, sendo acusado de motim, por ter participado alegadamente numa manobra para desviar as atenções das forças de segurança com o objectivo de permitir a fuga de estudantes refugiados no interior.

O grupo inclui ainda o activista pró-democracia Andy Li, de 29 anos, anteriormente detido na região ao abrigo da nova lei de segurança nacional, aprovada pelo regime chinês, no final de Junho.

O diploma imposto por Pequim à antiga colónia britânica pune actividades subversivas, secessão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras com penas que podem ir até à prisão perpétua, e levou vários activistas pró-democracia a refugiar-se no Reino Unido e Taiwan.

A líder de Hong Kong, Carrie Lam, afirmou repetidamente que os 12 detidos têm de enfrentar a lei na China continental, uma vez que foram presos por delitos aí cometidos.

Embora Hong Kong faça parte da China, tem um sistema judicial e de imigração distinto do continente, com controlos fronteiriços separados.

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