Serviços secretos dos EUA acusam Irão e Rússia de tentarem manipular eleitores

Os dois países estão a recolher dados pessoais sobre eleitores norte-americanos. O Irão está a enviar emails que ameaçam votantes democratas.

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Voto antecipado nos EUA está a bater recordes por causa da pandemia da covid-19 Reuters/JONATHAN DRAKE

O FBI e os serviços secretos dos EUA estão convictos de que o Irão e a Rússia estão a tentar influenciar o comportamento eleitoral nas vésperas das eleições presidenciais através da angariação de dados pessoais sobre os eleitores norte-americanos.

Numa rara conferência de imprensa na quarta-feira à noite, o director nacional dos serviços secretos, John Ratcliffe, e o director do FBI, Christopher Wray, expuseram as suas suspeitas e tentaram tranquilizar os eleitores quanto à resiliência dos mecanismos de votação nos EUA, numa altura em que 40 milhões de pessoas já votaram de forma antecipada.

Os serviços secretos detectaram o envio de emails para eleitores registados como democratas com ameaças de violência, caso votem em Joe Biden. Segundo Ratcliffe, os emails são atribuídos a grupos de extrema-direita como os Proud Boys, mas, na verdade, são enviados por operacionais iranianos.

“Vimos o Irão a enviar emails falsos, feitos para intimidar os eleitores, promover a revolta social e prejudicar [a recandidatura do Presidente Donald Trump], afirmou Ratcliffe. O Irão é também acusado de difundir vídeos que põem em causa a segurança do sistema de votação norte-americano, “sugerindo que há indivíduos que podem votar de forma fraudulenta, incluindo a partir do estrangeiro”, segundo o director nacional serviços secretos.

“Estas acções são tentativas desesperadas feitas por adversários desesperados”, afirmou Ratcliffe.

Os democratas ficaram descontentes com a forma como Ratcliffe, um ex-congressista republicano cuja nomeação por Trump foi contestada, apresentou o resultado das investigações. “Fiquei com a impressão de que [as acções do Irão] tinham o objectivo de minar a confiança nas eleições e não se dirigiam a uma figura particular”, afirmou o líder da bancada democrata no Senado, Chuck Schumer.

O director do FBI pediu aos eleitores para terem confiança de que “cada voto conta”. “Afirmações não verificadas de que não é assim devem ser vistas com uma dose saudável de cepticismo”, disse Wray.

A decisão de alertar publicamente o eleitorado para estas ameaças a menos de duas semanas das eleições destina-se a prevenir novas ofensivas por parte do Irão.

O Governo iraniano rejeitou as acusações, garantindo que, “ao contrário dos EUA, o Irão não interfere nas eleições dos outros países”. “O mundo tem assistido às tentativas desesperadas dos EUA em questionar as suas próprias eleições ao mais alto nível”, afirmou o porta-voz da missão iraniana na ONU, Alireza Miryousefi.

As eleições norte-americanas são fundamentais para o Irão que, com Trump, viu o acordo nuclear assinado em 2015 ser posto de lado e o regresso das sanções que estão a asfixiar a sua economia. Para Teerão, ter Biden na presidência abriria a possibilidade de voltar à mesa das negociações.

Os responsáveis pelos serviços secretos dos EUA não revelaram quantos eleitores foram visados pela ofensiva atribuída ao Irão, nem de que forma os seus dados pessoais foram angariados. Segundo o New York Times, muitas dessas informações são de acesso público.

O director nacional dos serviços secretos revelou que a Rússia também recolheu dados sobre eleitores norte-americanos, mas não foram sinalizadas acções semelhantes às do Irão.

As eleições de 2016 ficaram marcadas pelas suspeitas de interferência do regime russo para fragilizar a candidatura de Hillary Clinton, tanto através de ciberataques como pela difusão de informações falsas.

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