Dia 112: Como a fada dos dentes pode ajudar na investigação de uma doença rara

Mucopolissacaridose tipo III: “Tenho a certeza de que pais e filhos por este país fora vão adorar ajudar a fada dos dentes dando-lhe permissão para entregar o dente deixado sob a almofada a esta boa causa.”

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"O meu primeiro pensamento é para com os pais e, claro, para as crianças que sofrem desta doença tão trágica" @DESIGNER.SANDRAF

Querida Mãe,

Como a mãe bem sabe as fadas dos dentes usam muitas vezes intermediários para comunicar connosco. Pelo menos com as pessoas que sabem acreditar tanto na magia como na esperança. Desta vez, a escolhida foi a Francisca Coutinho, investigadora no INSA - Ricardo Jorge e que trabalha num projecto sobre uma doença chamada Mucopolissacaridose tipo III.

Numa carta/apelo, a Francisca Coutinho pede-nos para nos pormos no lugar do outro, imaginando “que viam os vossos meninos deixarem de conseguir construir frases, ou de dizer palavras que, dantes, sabiam de cor... Que os viam deixar de conviver com as outras crianças e fecharem-se cada vez mais no seu próprio mundo; que se tornavam tristes ou agressivos sem motivo aparente. Imaginem, por fim, que até de andar deixavam de conseguir, ficando presos a uma cadeira de rodas… Tudo isto num lento e doloroso processo para o qual ainda ninguém encontrou remédio.” É duro. Mas não nos deixa impotentes perante esta informação tão terrível, porque nos diz também como podemos ajudar a tornar possível o tratamento desta doença. Mas para isso é indispensável aliarmo-nos à fada dos dentes.

É que existem já algumas hipóteses de tratamento, mas apesar dos resultados promissores para que a investigação dê o salto é necessário testá-las nas células do cérebro. Ora, como as biópsias ao cérebro não são viáveis, a segunda melhor opção é usar células estaminais que, para grande surpresa minha, também se podem encontrar nos dentes de leite das crianças!

E aqui é que entramos, nós e a fada dos dentes. Diz a investigadora: “Só precisamos que estejam dispostos a ceder-nos um desses dentinhos quando ele cair, de preferência um canino ou um incisivo. Não é difícil. Basta contactarem-nos quando o dente começar a abanar, para que possamos preparar um líquido próprio e enviá-lo para vossas casas a tempo. Depois, é colocar o dente nesse líquido e enviá-lo para o nosso laboratório.”

A nossa parte nesta missão é simples e acaba ali, mas a destes investigadores continua: “Uma vez cá chegado, vamos parti-lo de modo a conseguir retirar as células que estão no seu interior, numa parte mole chamada polpa dentária. Nós, com muito cuidado e bastante paciência, vamos dar-lhes uma série de estímulos que hão-de ajudar a que se transformem, aos poucos, em células do cérebro. E vai ser nessas células que vamos depois testar os tratamentos em que temos vindo a trabalhar para esta doença, para perceber se funcionam e se são seguros.”

Tenho a certeza de que pais e filhos por este país fora vão adorar ajudar a fada dos dentes dando-lhe permissão para entregar o dente deixado sob a almofada a esta boa causa. Se a mãe quiser espreitar o apelo que foi publicado num blogue que comunica Ciência numa linguagem clara e acessível e que vale bem conhecer, siga este link.

Vai encontrar logo no princípio do artigo o e-mail da investigadora, ansiosa pelo contacto da fada dos dentes e dos seus aliados.

Beijos


Querida Ana,

O meu primeiro pensamento é para com os pais destas crianças e, claro, para as próprias que sofrem desta doença tão trágica. Ver um filho “recuar” em tudo o que conquistou, e saber que a cada dia o espera uma etapa pior, é uma prova que desejava que nunca ninguém tivesse de passar.

Mas como tu dizes, o apelo tão empático e claro da investigadora deixa-nos a possibilidade de agir, e por minúscula que seja a nossa ajuda, sempre é um antídoto para a impotência que sentimos sempre diante destas coisas. As fadas dos dentes, que nem a pandemia afasta, estão já alinhadas nesta missão desde o primeiro momento, agora é só preciso darmos nós o próximo passo.

Os dentes da M. devem estar a cair, desses encarregas-te tu, mas vou passar a mensagem aos outros netos. Tenho a certeza de que ficam felizes por ajudar... Desde que a moeda continue a aparecer debaixo da almofada, claro! E ainda há gente que diz que a magia não existe.

Beijos

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