Bolívia: contagem dos votos prossegue lentamente, mas vitória já não foge a Luis Arce

Resultados finais devem ser revelados na quarta-feira. Organização de Estados Americanos (OEA) e Nações Unidas já felicitaram Luis Arce, candidato do MAS, pela vitória.

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Jornal boliviano dá conta da vitória de Luis Arce Joedson Alves/EPA

Com mais de 65% dos votos contados, a vitória de Luis Arce, do Movimento para o Socialismo (MAS), na primeira volta das presidenciais na Bolívia parece garantida, com o candidato do ex-Presidente Evo Morales a liderar confortavelmente com uma vantagem de mais de 20 pontos em relação ao segundo classificado, Carlos Mesa.

O processo de contagem oficial dos votos tem decorrido lentamente, conforme admitiu o presidente do Supremo Tribunal Eleitoral (STE), Salvador Romero, mas é expectável que os resultados finais possam ser divulgados na quarta-feira. Até lá, é possível acompanhar, em tempo real, a contagem dos votos num site criado pelo STE.

Apesar de a vitória de Luis Arce já ter sido reconhecida pelos seus principais adversários, incluindo Carlos Mesa e a Presidente interina, Jeanine Añez, persiste alguma expectativa quanto aos relatórios dos observadores internacionais, incluindo a União Europeia, as Nações Unidas e a Organização de Estados Americanos (OEA), que supervisionaram o decorrer das eleições. 

No entanto, Luis Almagro, secretário-geral da OEA, organização que considerou as presidenciais de 2019 fraudulentas, levando ao exílio do ex-Presidente Evo Morales, já reconheceu a vitória de Luis Arce, felicitando o antigo ministro da Economia de Morales.

“O povo da Bolívia expressou-se nas urnas. Felicitamos Luis Arce e David Choquehuanca [vice-presidente] e desejamos sucesso nos seus desafios futuros. Estou certo de que, com a democracia, saberão construir um futuro brilhante para o seu país”, afirmou Almagro, numa declaração simbólica, tendo em conta o papel da organização na queda de Morales.

Também o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, saudou as “eleições altamente participativas e pacíficas” na Bolívia, dando força à tese de que o sufrágio decorreu de forma tranquila e sem incidentes.

No entanto, Evo Morales, exilado na Argentina, voltou a acusar esta terça-feira a OEA de ser “cúmplice” de “um golpe de Estado com massacres e perseguição política”, e sublinhou que “as eleições de domingo ratificam o que aconteceu” em 2019, quando o ex-Presidente viu o seu quarto mandato consecutivo ser anulado.

De acordo com as projecções, Arce é eleito Presidente logo à primeira volta, contrariando as sondagens, que apontavam para a necessidade de uma segunda volta, em que Carlos Mesa teria maiores possibilidades de derrotar o candidato do MAS.

O ex-ministro de Evo Morales conta com 50% dos votos, enquanto Mesa fica-se pelos 31%. O terceiro classificado, Luis Fernando Camacho, de extrema-direita, não deverá ir além dos 15%. Para garantir uma vitória no primeiro turno, é necessário mais de 50% dos votos ou mais de 40% com uma vantagem de pelo menos dez pontos sobre o segundo.

De acordo com o analista Julio Córdova, a vitória de Arce na primeira volta explica-se sobretudo pelo voto dos cerca de 24% de indecisos identificados nas sondagens, com a grande maioria a optar pelo voto no MAS, e pelo eleitorado que, mesmo não tendo votado em Evo Morales em 2019, voltou para a esquerda este ano, para impedir a direita de chegar ao poder.

“Muitos dos eleitores que não apoiaram Evo Morales em 2019 optaram, agora, pelo MAS, especialmente por rejeitarem a repressão de [Jeanine] Añez. Foi um voto de resistência”, disse Córdova ao El País.

Nas eleições de domingo, segundo os dados divulgados pelo STE, votaram 7,3 milhões de bolivianos, uma participação eleitoral de 87%, superior aos 80% verificados nas eleições anteriores. A confirmarem-se os resultados, Arce deverá tomar posse na primeira quinzena de Novembro.

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