“Bazuca” europeia para pagar layoffs financiada a taxas de juro negativas

Primeiras emissões de dívida europeia para financiar o programa SURE registaram uma procura 13 vezes superior à oferta. A taxa de juro conseguida a 10 anos foi de -0,238%.

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LUSA/STEPHANIE LECOCQ / POOL

Foi com um volume de procura muito elevado e aceitando emprestar dinheiro a taxas negativas que os investidores do mercado europeu de dívida pública receberam a primeira de várias emissões de dívida que a União Europeia irá realizar nos próximos anos para financiar os seus programas de apoio à economia.

A UE realizou esta terça-feira duas emissões de dívida, uma a 10 anos e outra a 20, obtendo junto dos mercados um financiamento de 17 mil milhões de euros (10 mil milhões a 10 anos e 7 mil milhões a 20 anos). O crédito obtido destina-se a obter os meios para o programa SURE, com o qual a UE concede depois empréstimos aos Estados-membros para que estes financiem as medidas de apoio ao emprego.

Foi arranque de um período em que a UE vai intensificar de forma muito acentuada a colocação de títulos de dívida europeia junto dos mercados. Para financiar o programa SURE, a UE irá emitir 100 mil milhões de euros de dívida, 30 mil milhões dos quais já durante este ano. E depois, a partir de 2021, irá emitir cerca de 800 mil milhões de euros para financiar o programa de recuperação europeu.

A UE vai-se tornar assim num dos principais actores do mercado europeu de emissão de dívida até aqui quase exclusivamente dominado pelos Estados. Quando tiver emitido os cerca de 900 mil milhões de dívida previstos, a UE irá ficar bem mais próximo dos grandes emitentes como a França, a Itália, a Alemanha e a Espanha.

Havia portanto uma grande expectativa em relação à forma como os investidores receberiam esta primeira grande emissão de dívida da UE. E o resultado ficou em linha com aquilo que eram as expectativas mais optimistas.

De acordo com a agência Reuters, a operação, dividida em duas emissões, gerou uma procura global de 233 mil milhões de euros, mais de 13 vezes o valor dos títulos emitidos.

As taxas de juro ficaram, no caso da emissão a 10 anos, em -0,238%, e, no caso da emissão a 10 anos, em 0,131%, um custo que é semelhante ao suportado normalmente pela França, embora ligeiramente mais alto que o de Alemanha.

A forte procura e as taxas de juro baixas dão indicações de que a UE não deverá ter problemas em obter um avultado financiamento a custos baixos. Como afirmou à Reuters um analista do mercado, esta primeira emissão “mostra ao mercado e mostra à UE que vai haver procura para estas emissões”.

Este sucesso baseia-se, não só no facto de por trás destas emissões estarem as garantias de todos os Estados-membros da UE, como na expectativa de o Banco Central Europeu vir, no mercado secundário, a fazer aquisições muito significativas destes títulos.

As taxas de juro baixas e mesmo negativas na emissão a 10 anos – o que significa que os credores vão pagar juros à UE para lhe emprestar dinheiro – irão depois reflectir-se naquilo que cada Estado-membro que recorrer ao programa SURE irá depois ter de pagar em juros à UE.

No caso de Portugal, o governo candidatou-se a um financiamento de 5900 milhões de euros do programa SURE, dinheiro que servirá para fazer face às despesas com o layoff simplificado.

A taxa de juro que Portugal irá pagar por este empréstimo corresponde à taxa de juro a que a UE se conseguir endividar acrescida de uma comissão para fazer face aos custos operacionais. Deste modo, a expectativa é a de que, nos empréstimos do programa SURE, Portugal beneficie de um custo de financiamento mais baixo do que aquele que normalmente obtém no mercado. Neste momento, a taxa de juro da dívida a 10 anos é de 0,163%.

Notícia actualizada com os resultados da emissão

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