Cartas ao director

Contra o alarmismo

Escrevo embora sem grande esperança de que vá resultar algo deste meu protesto. Desde há muitos meses as notícias, quer nos jornais, quer nos telejornais, são quase só números e números de infectados e mortos pela covid-19. E não se limitam a enumerar os que são deste país – enumeram todos os dias os de Espanha, França, Inglaterra e por aí fora. Como se isso adiantasse alguma coisa... Sempre a alarmar, a alarmar o povinho. E não é que o povinho anda mesmo alarmado? E não são só os adultos...

Há dias, um neto meu, que faz hoje oito anos, dizia-me muito aflito: “Ó avó, eu não quero morrer!” O rapazinho anda, tal como muitos adultos e crianças, alarmadíssimo com a pressão que os meios de comunicação social e toda a sociedade fazem. Lá estive a desdramatizar, a dizer-lhe que ele só iria morrer depois de viver toda a vida dele, que morrer não é assim tão mau…. Eu tenho 84 anos, irei morrer um dia destes, não quero que ninguém chore, quero música, etc..

Preparei aquilo que pais e professores devem ir dizendo da vida e da morte. Mas o alarme que estão a fazer é horrível. É muito mau. Para quê passar quase os telejornais todos a falar do número de mortos e infectados? Será que isso adianta alguma coisa, a não ser causar alarmismo?

Chamo a atenção para quem de direito para que isso seja corrigido, por razões de saúde psíquica. Haja alguém neste país com juízo.

Gracinda Lima Gaspar

Joe Berardo e Azeitão

Azeitão era uma interessante vila portuguesa, com belíssimos palácios renascentistas e barrocos desenhados pelos melhores arquitectos da sua época. Tinha também uma imponente estação de camionagem dos anos 1950 recentemente transformada num gigantesco palácio neobarroco. Usar uma antiga garagem de autocarros abandonada para instalar uma colecção de arte contemporânea poderia parecer, à partida, uma boa ideia. Não havia seguramente necessidade de a transformar num indescritível “pastiche”… Estará Joe Berardo a pensar deslocar-se de coche para Azeitão, trocando o impecável blazer preto por uma casaca de punhos de renda? De resto, não se percebe como pode avançar uma obra desta escala, aparentemente sem licença e à vista de todos. A senhora presidente da Câmara Municipal de Setúbal não deu conta?

Rui Lobo, Coimbra

Abanões

Todos nós temos dias menos felizes e na última semana o primeiro-ministro, António Costa, teve, a meu ver, pelo menos duas infelicidades. Uma sobre a obrigatoriedade da instalação do StayAway Covid, que tanta polémica está a levantar, sobretudo a nível de constitucionalidade. Outra, e sabendo que António Costa não tem uma dicção perfeita, não terá tido cuidado com a semântica quando disse da necessidade de dar um “abanão”, o que me fez lembrar uma frase do ditador Salazar, que disse que uns “abanões dados a tempo"… É evidente que as frases têm contextos não confundíveis, mas há que ter cuidado com o que se diz, e da forma como se faz.

José P. Costa, Lisboa

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