Empresária norte-americana diz ter tido caso com Boris Johnson

Município de Londres pedira que o primeiro-ministro britânico fosse investigado por beneficiar a amiga quando era presidente da capital britânica, entre 2008 e 2016.

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Jennifer Arcuri à saída de uma entrevista na BBC, o ano passado Reuters/TOBY MELVILLE

Jennifer Arcuri, a empresária norte-americana no centro das suspeitas de conflito de interesses e conduta imprópria que envolvem o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, admitiu, numa entrevista, que teve um caso com o político quando este era presidente da câmara de Londres, escreve o jornal The Daily Mail. Downing Street não fez qualquer comentário.

“Acho que nem é preciso dizer… toda a gente já sabe… Mas não vou falar sobre isso”, respondeu Arcuri quando lhe foi perguntado se teve um envolvimento com Johnson quando este ainda estava com a sua segunda mulher, Marina Wheeler, avançou o diário. Na conversa com o jornal, a americana, de 35 anos, contou que Johnson a bombardeou com “avalanches de paixão”.

À pergunta sobre se estava apaixonada pelo agora primeiro-ministro, Arcuri terá afirmado: “Na altura tinha um afecto profundo por ele, mas nunca usei a palavra L [de “love”, amor]. Eu não teria reconhecido estar apaixonada. Gostei muito deste homem e isso é decididamente claro. Isso é tudo o que eu quero dizer”.

Horas depois de conhecido o artigo, Arcuri criticou o seu conteúdo, sem explicar que partes é que estava a pôr em causa. Numa reacção através do Twitter, afirmou que “todos temos mais que fazer, dado o estado do mundo” e disse estar “verdadeiramente humilhada” pelo artigo, descrevendo-o como uma “tentativa de espalhar factos sobre coisas que nunca foram ditas ou discutidas”.

Quando as alegações foram conhecidas, o ano passado, Arcuri deu uma série de entrevistas onde falava de “uma relação muito especial”. Chegou a dizer que depois de se conhecerem em 2011, num encontro “arrebatador”, Johnson visitou-a pelo menos dez vezes no escritório que tinha em casa, em Shoreditch, na capital britânica. Sabe-se que o primeiro-ministro falou de graça em quatro eventos da start-up de Arcuri, a empresa de tecnologia Innotech.

“Eles alegam que eu beneficiei financeiramente da minha amizade com Boris… não é verdade”, garantiu Arcuri na entrevista ao Daily Mail.

A natureza desta relação tornou-se alvo de escrutínio público depois de ser revelado que a empresária e ex-modelo terá recebido milhares de libras em dinheiros públicos e tido acesso privilegiado a viagens comerciais ao estrangeiro (Nova Iorque, Telavive) por intervenção de Johnson, tendo chegado a beneficiar de apoios estatais, incluindo através da London and Partners, agência que trabalha com a autarquia. Quando estes factos foram divulgados pela imprensa, o município, liderado agora pelo trabalhista Sadiq Khan, adiantou ter “informações de que pode ter havido crime”.

Conflito de interesses

O município solicitou um inquérito à Independent Police Complaints Commission (IOPC), que investiga queixas e alegações de conduta imprópria na polícia, uma vez que Johnson era chefe do gabinete do presidente da câmara para o Policiamento e o Crime, cargo equivalente a comissário da polícia.

Esta comissão decidiu não avançar com uma investigação criminal, mas no relatório de 112 páginas que fez sobre o assunto concluía que Johnson deveria ter declarado um conflito de interesses – ao decidir não o fazer pode ter violado o código de conduta da assembleia da Grande Londres. “Não há provas de que Johnson influenciou o pagamento de patrocínios ou a participação em viagens, mas há provas que sugerem que os responsáveis que tomaram essas decisões pensavam que havia uma relação próxima e isso influenciou a sua tomada de decisão”, afirmou o director-geral, Michael Lockwood.

Nova investigação

O IOPC notou que Johnson nunca reconheceu ter tido um caso com Arcuri, mas também não o desmentiu. A americana recusou discutir a sua vida pessoal com os investigadores, mas disse-lhes que tinha havido “sussurros sobre mim desde o primeiro dia”, recorda o jornal The Guardian.

Quando foram conhecidas as conclusões deste inquérito o primeiro-ministro, que sempre negara qualquer comportamento menos próprio, criticou as “alegações vexatórias” que tinham sido feitas contra si.

Entretanto, a própria câmara municipal decidiu investigar a conduta de Johnson quando o IOPC encerrou a sua investigação, em Maio.

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