Tailândia usa estado de emergência para banir protestos

Medida chega depois da grande manifestação na véspera, centenas desafiam ordem e saem à rua.

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Polícia anti-motim em Banguecoque Reuters/ATHIT PERAWONGMETHA

O Governo da Tailândia proibiu protestos e a polícia levou a cabo 20 detenções, entre as quais três dos líderes do movimento pró-democracia que critica o rei Maha Vajiralongkorn e o primeiro-ministro Prayuth Chan-ocha, que chegou ao poder em 2019 (depois de ter liderado a junta militar que fez um golpe em 2014), na quarta-feira.

Apesar disso, centenas de pessoas voltaram a sair à rua esta quinta-feira, segundo a agência Reuters.

Na manifestação da véspera, dezenas de milhares de pessoas pediram reformas na monarquia, que durante décadas foi sagrada no país (imagem do monarca em todo lado, de salas de aula a restaurantes, nos cinemas aparece no início dos filmes, e todos se levantam), e o país tem uma forte lei de lesa-majestade, com penas de até 15 anos de prisão para críticas à monarquia (o rei pediu, no entanto, para que estas não sejam aplicadas de momento). 

Mas a reverência prestada ao anterior rei Bhumibol Adulyadej não tem comparação com o actual: Vajiralongkorn, 68 anos, no trono desde 2016, vive a maior parte do tempo na Baviera, onde o seu filho estuda. É uma situação que desagrada ao próprio Governo da Alemanha: o ministro dos Negócios Estrangeiros, Heiko Maas, declarou que “a política da Tailândia não deve ser conduzida a partir do território alemão”.

O Governo de Prayuth acusou os manifestantes de “perturbarem” uma coluna de veículos da casa real, e passado meia hora sobre a aprovação das medidas de emergência a polícia de choque dispersou manifestantes que acamparam junto do gabinete do primeiro-ministro pedindo o seu afastamento e uma nova Constituição.

Foram depois erguidas barreiras e checkpoints ao longo da capital, Banguecoque, para evitar mais ajuntamentos. Mesmo assim, houve uma manifestação, com pessoas a gritar “libertem os nossos amigos!”.

“A situação actual equivale a um golpe, disse Tattep Ruangprapaikitseree, um dos poucos manifestantes ainda em liberdade, à agência Reuters. “O que foi agora feito foi empurrar a Tailândia para um ponto de ruptura”, disse Thanathorn Juangroongruangkit, um político da oposição.

As novas medidas de emergência permitem a detenção de pessoas sem acusação durante 30 dias, período em que também não têm acesso a contactos com a família ou advogados, acusa a Human Rights Watch, citada pelo diário britânico The Guardian.

Os manifestantes querem a saída do primeiro-ministro, dizendo que ele manipulou as eleições do ano anterior, que o mantiveram no poder. Querem também uma nova Constituição e redução dos poderes do rei, e a reversão de ordens que lhe dão controlo sobre a fortuna da casa real e sobre algumas unidades militares. 

"Uma democracia completa"

Os protestos duram há três meses e ainda que tenham provocado tensão, têm sido, na sua maioria, pacíficos. Num incidente, no entanto, a polícia afastou manifestantes de uma coluna de veículos em que seguia a rainha Suthida.

Esse foi um dos motivos invocados para a aprovação das medidas de emergência, que incluem a proibição de encontros de mais de quatro pessoas. Também foi proibida a publicação de notícias que possam “criar medo” ou “afectar a segurança nacional”.

Muitos manifestantes não planeiam recuar. “Ainda não conseguimos restaurar uma democracia completa”, disse Sun Pathong, 54 anos, que participou em muitos protestos antes de Prayuth ter chegado ao poder no golpe de 2014. “Vou voltar. Vamos continuar a lutar mesmo que arrisquemos as nossas vidas”, garantiu.

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