Covid-19. Mortes na Europa podem ser cinco vezes mais do que em Abril — restrições são “absolutamente necessárias”, diz OMS

Director regional da OMS para a Europa alerta que a covid-19 é agora a quinta principal causa de morte em território europeu e que a situação pode piorar. Porém, restrições mais severas impostas por alguns países podem salvar vidas.

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Roma, Itália Guglielmo Mangiapane/REUTERS

O número diário de mortes por covid-19 na Europa pode vir a atingir, nos próximos meses, o quadruplo ou quíntuplo das registadas durante o pico da pandemia em Abril, caso não sejam adoptadas medidas de prevenção eficazes, alertou a Organização Mundial de Saúde (OMS) no dia em que nove países europeus — República Checa, Polónia, Alemanha, Áustria, Itália, Croácia, Eslováquia, Eslovénia e Bósnia-Herzegovina — registaram números recorde de novos casos de infecção.

O director regional da OMS para a Europa, Hans Kluge, destacou esta quinta-feira, em conferência de imprensa, que a Europa registou a pior semana em termos de novos casos de infecção à medida que o novo coronavírus se começa a espalhar novamente pelo continente europeu.

“A evolução da situação epidemiológica na Europa suscita uma grande preocupação: os casos diários estão a aumentar, as hospitalizações estão a subir e a covid-19 é agora a quinta [principal] causa de morte” na região, disse Hans Kluge, salientando que actualmente a doença mata mais de mil pessoas por dia em território europeu, cita o diário The Guardian.

Porém, o representante da OMS salienta que há esperança, uma vez que a actual situação não se assemelha ainda à primeira vaga da covid-19 e que medidas mais rígidas implementadas por vários países europeus esta semana poderão salvar milhares de vidas.

“É hora de dar um passo em frente. A mensagem para os governos é: não se deixem ficar para trás com acções relativamente pequenas para evitar as acções dolorosas e danosas que vimos na primeira vaga”, afirmou, citado pela BBC.

120 mil casos em 24 horas

“Estamos a registar duas a três vezes mais casos por dia comparativamente a Abril, mas cinco vezes menos mortes”, referiu Kluge, acrescentando que as hospitalizações não estão a subir a um ritmo tão alarmante em comparação com o pico da pandemia. “A pandemia hoje não é a pandemia de ontem — não apenas em termos da sua dinâmica de transmissão, mas também na forma como estamos agora preparados para a enfrentar”, notou.

Segundo Kluge, os casos confirmados de infecção nos 53 estados-membros europeus da OMS aumentaram de seis milhões para mais de sete milhões em dez dias, tendo-se registado números recorde a 9 e 10 de Outubro — dias em que os aumentos diários do conjunto de países excederam os 120 mil casos pela primeira vez.

No entanto, o especialista admite que o aumento dos infectados poderá estar parcialmente relacionado com uma maior testagem. Por outro lado, o facto de se estar a observar uma maior transmissão entre jovens e pessoas menos vulneráveis e a maior capacidade dos hospitais para lidarem com casos de doença severa poderá estar a contribuir para uma menor taxa de mortalidade.

Não obstante, há uma possibilidade “realista” de a pandemia piorar drasticamente, caso o novo coronavírus volte a afectar maioritariamente os mais idosos e as pessoas de grupos etários mais vulneráveis “em resultado de contactos sociais mais intensos entre as gerações”.

Como salvar mais de 280 mil vidas até Fevereiro?

Os modelos matemáticos, segundo Hans Kluge, sugerem que se os governos relaxarem as restrições, até Janeiro de 2021 a taxa de mortalidade diária por covid-19 poderá ser quatro a cinco vezes mais elevada do que o registado em Abril. Ainda assim, as previsões mostram também que a adopção de medidas simples pode travar drasticamente esta tendência.

Medidas como “o uso sistemático e generalizado da máscara”, com 95% das pessoas a utilizarem este equipamento de protecção, em conjunto com “controlos rígidos dos ajuntamentos sociais em espaços públicos ou privados”, podem “salvar até 281.000 vidas até 1 de Fevereiro”, afirmou.

Neste sentido, as medidas anunciadas recentemente por países como a Holanda, Espanha, França, República Checa e Portugal são “boas porque são absolutamente necessárias”. “São respostas apropriadas e necessárias para aquilo que os dados nos dizem: a transmissão e fontes de contaminação ocorrem em residências e espaços públicos fechados, e em comunidades que não cumprem (ou cumprem mal) as medidas de autoprotecção”, acrescentou.

Porém, segundo a BBC, o representante da OMS lembrou que os governos devem ter em conta o impacto das restrições na saúde mental e na violência doméstica e evitar ao máximo o encerramento das escolas.

Num esforço para tentar travar o aumento de casos de infecção pelo novo coronavírus, vários países europeus, como a Itália, Reino Unido, Bélgica, França e a Alemanha, estão a implementar novas restrições, chegando mesmo a avisar, em alguns casos, que este é um último passo para evitar um novo confinamento.

Em Portugal, o Governo elevou o estado de alerta em todo o território continental, tendo passado a partir desta quinta-feira a situação de calamidade. Além de reduzir o limite de ajuntamentos a cinco pessoas, foram também implementadas restrições nas celebrações particulares e prevê-se a possibilidade de tornar obrigatório o uso de máscara na rua, bem como a instalação da aplicação StayAway Covid em contexto de trabalho e escola — medidas que terão ainda de ser aprovada pelos deputados na Assembleia da República.

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