Aliado de Bolsonaro tenta esconder dinheiro nas cuecas durante busca policial

O senador Chico Rodrigues é investigado por suspeitas de participar num esquema de desvio de fundos públicos que deviam ter sido usados para o combate à covid-19.

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Chico Rodrigues é vice-presidente da bancada do Governo no Senado Marcos Oliveira/Agência Senado

Uma operação de busca realizada pela Polícia Federal no estado de Roraima, no Norte do Brasil, apreendeu mais de cem mil reais (15 mil euros) em dinheiro vivo na casa de um senador aliado do Presidente, Jair Bolsonaro, no âmbito de uma investigação a alegados desvios de fundos públicos destinados ao combate à pandemia de covid-19.

As buscas foram feitas na casa do senador Chico Rodrigues, do partido Democratas e vice-líder da bancada do Governo no Senado, em Boa Vista, capital de Roraima. De acordo com a polícia, o político tentou esconder parte do dinheiro nas cuecas que levava vestidas.

A operação ocorre no âmbito de investigações que tentam apurar a existência de desvio de recursos públicos que deviam ser canalizados para os esforços de combate à covid-19. No caso concreto de Roraima, a PF acredita que existe um grupo criminoso que interferia nos processos de contratação pública de maneira a beneficiar certas empresas que posteriormente eram contratadas pela Secretaria Estadual de Saúde, explica o site G1.

Ao todo, os investigadores calculam que tenham sido desviados 20 milhões de reais (três milhões de euros).

O episódio, com amplo destaque na imprensa brasileira, acontece uma semana depois de Bolsonaro ter dito que a Operação Lava-Jato já não é necessária por não existir corrupção no seu Governo. Já na quarta-feira, depois de ter conhecimento das buscas ao seu aliado, o Presidente voltou a garantir que não existe corrupção no seu executivo. “Não tem porque botamos gente lá comprometida com a honestidade, com o futuro do Brasil”, afirmou Bolsonaro em Brasília.

No entanto, perante a grande repercussão da notícia, o senador acabou por pedir a demissão como vice-presidente da bancada do Governo, que foi aceite por Bolsonaro, através de um edital publicado numa edição extraordinária do Diário da União. Segundo a imprensa brasileira, o Presidente ficou muito irritado por as buscas terem acontecido tão pouco tempo depois de ter dado garantias de que a corrupção tinha deixado de ser um problema e terá feito pressão sobre Chico Rodrigues para que abandonasse a bancada governamental.

O senador Chico Rodrigues, que integra o Conselho de Ética do Senado, disse estar “tranquilo” com a investigação e sublinhou que a PF “cumpriu a sua parte”, embora tenha lamentado ver a sua residência “invadida”. “Tenho um passado limpo e uma vida decente. Nunca me envolvi em escândalos de nenhum porte. Se houve processos contra minha pessoa no passado, foram provados na Justiça que sou inocente”, afirmou Rodrigues, num comunicado.

Chico Rodrigues está há mais de 30 anos na política, 20 dos quais como deputado federal e era um companheiro frequente de Bolsonaro. A relação entre os dois parlamentares era tão próxima que Bolsonaro chegou a descrever esse período de camaradagem na Câmara dos Deputados como “quase uma união estável”.

A operação que visa o agora ex-vice-presidente da bancada governamental no Senado surge numa altura em que Bolsonaro está a ser criticado pelas aproximações ao chamado “centrão” – do qual Rodrigues é um representante – que corresponde à velha classe política de Brasília que o capitão reformado do Exército tinha prometido extinguir. A nomeação recente de Kassio Nunes para o Supremo Tribunal Federal, um nome apoiado pelo bloco da “política fisiológica” (“centrão) do Congresso, foi mais uma indicação dessa aproximação de Bolsonaro, que tinha prometido escolher um juiz “terrivelmente evangélico” para o cargo.

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