No Rio Minho vai emergir um arquipélago que alerta para o excesso de plástico

A instalação artística Ilhas de Plástico vai reunir 24 calotas esféricas feitas de plástico descartável num troço do rio mais a norte do país. A obra de Acácio de Carvalho, associada ao projecto de sensibilização ambiental LowPlast, integra a Bienal de Arte de Cerveira.

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Acácio de Carvalho
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Bienal de Cerveira
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Acácio de Carvalho

As ilhas que povoam a imaginação de Acácio de Carvalho só devem boiar sobre as águas do rio Minho no final de Outubro ou no início de Novembro, mas algumas já se converteram em estruturas palpáveis, com tubos e garrafas de plástico descartável, ligados por uma armação de ferro e coloridos a azul, vermelho ou amarelo. “Oito calotas já estão feitas. No total, são 24. Estou a fazer um reaproveitamento de material, a nível plástico e visual”, diz ao PÚBLICO o artista com extenso currículo nas artes plásticas, mas também na cenografia e nas artes gráficas.

Essas calotas, prossegue o autor, são as “personagens” de Ilhas de Plástico, obra que integra a XXI Bienal de Arte de Cerveira, evento em curso até 31 de Dezembro, no âmbito do projecto de sensibilização ambiental LowPlast – A arte de reduzir o plástico. Quando concluídas, as 24 estruturas hemisféricas vão “contracenar num espaço cénico” com cerca de 430 metros quadrados, num troço do rio de onde se avista um edifício de geometria semelhante – o das piscinas municipais de Vila Nova de Cerveira. “A instalação é uma ampliação dos pequenos dejectos plásticos que andam pelo rio fora, às toneladas. Eles juntam-se para criar um espectáculo”, descreve.

Preocupado em apresentar um “conjunto que funcione visualmente”, o autor espera também que o arquipélago seja interpretado como uma “narrativa sem texto”, capaz de suscitar “imensas leituras” e estranheza em quem o olha. Para Acácio de Carvalho, até “é bom que a obra seja polémica”, de forma a “chamar a atenção” para o desperdício de plástico – estima-se que o fundo do oceano albergue pelo menos 14 milhões de toneladas de microplásticos, segundo um artigo publicado no início de Outubro, na revista Frontiers in Marine Science. “Com tanto lixo que existe, estas ilhas podem começar a crescer nesta visão fantasmagórica”, sugere.

Sujeitas a testes de flutuabilidade antes de serem lançadas ao rio, as calotas devem permanecer sobre as águas até Dezembro, mostrando-se iluminadas à noite. O criador deseja ainda que as suas ilhas naveguem até à foz do rio, mas a viagem tem de ser discutida com a Capitania do Porto de Caminha. “Está previsto que elas desçam juntas, de Cerveira até Caminha, e voltem”, detalha.

Face à dimensão da obra, o artista de Vila Nova de Gaia conta com outros artistas para a elaboração das estruturas, nomeadamente Lúcia Nunes, Ana Maria Pintora, Ricardo Campos, Henrique Duval e Cabral Pinto, o director artístico da Bienal de Cerveira. Esses autores intervêm “segundo a sua imaginação”, mas com a “linguagem dos materiais” idealizada por Acácio de Carvalho, adianta ao PÚBLICO o responsável pela mostra de arte contemporânea desde 2016.

Monitorizar e formar

A vertente artística do LowPlast contempla ainda as intervenções de Pippip Ferner e de Christine Istad, autoras norueguesas habituadas a transformar resíduos plásticos encontrados na praia em obras de arte. A calendarização está, contudo, por definir face à pandemia de covid-19, adianta ao PÚBLICO o director do Aquamuseu do Rio Minho, entidade promotora do projecto, sediada em Cerveira. “Está previsto elas virem a Portugal, mas ainda não sabemos bem quando”, admite Carlos Antunes.

As duas artistas estão ligadas ao Instituto Insterdisciplinar de Artes de Oslo, outra das entidades ligadas ao projecto de sensibilização ambiental, tal como a Fundação Bienal de Arte de Cerveira e a Associação Portuguesa do Lixo Marinho. Assim acontece, porque o LowPlast é está orçado em 130 mil euros, com um financiamento de 90 mil dos EEA-Grants, mecanismo através do qual a Noruega, a Islândia e o Liechtenstein, países integrados no mercado interno da União Europeia, apoiam estados-membros.

O projecto, destinado a Vila Nova de Cerveira, assenta sobre dois outros eixos. Um deles é a monitorização - o Aquamuseu vai desenvolver campanhas para apurar os tipos de resíduos que poluem aquele curso de água, bem como a sua origem. “A maioria é de plástico. Queremos fazer registos, porque há pouca informação sobre os rios. Há mais sobre as praias. Esta análise permite-nos ter a percepção das fontes de poluição”, explica o biólogo que dirige a instituição.

O Aquamuseu vai ainda realizar um diagnóstico das “embalagens descartáveis comercializadas” por supermercados e restaurantes e promover acções de formação que incentivem à redução do plástico. “Queremos que adiram a este processo, até para poderem ter selos de boas práticas”, esclarece Carlos Antunes.

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