TAP já perdeu 1200 trabalhadores e vai chegar aos 1600 até ao final do ano

O ministro das infra-estruturas, Pedro Nuno Santos, adiantou que a estratégia deve passar por uma maior aposta na frota da Portugália, com mais viagens de ponto a ponto, ao mesmo tempo que haverá um redimensionamento da TAP.

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Nuno Ferreira Santos

O ministro das infra-estruturas, Pedro Nuno Santos, afirmou esta quinta-feira que já saíram do grupo TAP 1200 trabalhadores, e que o número vai chegar aos 1600 até ao final do ano.

Presente numa audição parlamentar na comissão de economia, inovação, obras públicas e habitação, o ministro respondia a Isabel Pires, deputada do BE, partido que fez o requerimento, sobre se confirmava que não tinham sido renovados contratos com 1500 tripulantes de bordo.

Dados que, garantiu Pedro Nuno Santos, “não têm nenhuma adesão à realidade”, até porque equivalem “a 80% do pessoal de bordo da companhia”. No final de 2019, o grupo de aviação contava com 10.952 trabalhadores.

De acordo com os dados semestrais da TAP SA, a companhia aérea chegou ao final de Junho com 8593 trabalhadores, quando o universo laboral que se verificava no final de Fevereiro era composto por 9153. Assim, já se tinham perdido 560 postos de trabalho com a pandemia em quatro meses na transportadora.

Os números agora divulgados incluem não só um aumento das saídas da TAP SA, como o corte de vínculos laborais na Portugália e em outras empresas como a Cateringport, que já terá perdido mais de 100 postos de trabalho. Na audiência parlamentar, o PCP destacou também o caso de 155 pessoas ligadas à área da limpeza e que vão agora, segundo foi afirmado, para o desemprego. 

Sobre o plano de reestruturação do grupo, onde o Estado já detém 72,5% do capital, o ministro da tutela defendeu que não há qualquer indecisão. “Está a ser feito. Temos seis meses para o apresentar, e o prazo acaba a 10 de Dezembro, mas vamos tentar antecipar”, afirmou Pedro Nuno Santos.

Sublinhando que este é um processo “muito complexo” e “o dossiê mais difícil” que tem entre mãos, o governante afirmou que o objectivo é “garantir a sustentabilidade da companhia aérea”, e com isso conseguir garantir o emprego. Mas não deixou de reiterar que não é possível “manter uma dimensão que não tem adesão ao mercado em que está a operar”. E isso, clarificou o ministro, “implica o redimensionamento da empresa”.

Reforçar frota da Portugália e voos ponto a ponto

Se a TAP está com baixos níveis de operação, tendo sido questionada a capacidade de outras companhias concorrentes, é porque “não tem mercado, não tem procura, não tem clientes. Por isso é que tem aviões no chão”. Há rotas, adiantou, que “não estão a pagar os custos variáveis, nomeadamente rotas a sair do Porto, por exemplo”. 

Sobre a concorrência, como as low cost, Pedro Nuno Santos defendeu que é “mais difícil para a TAP”, porque funciona como um hub e não ponto a ponto, com distribuição para mercados que, agora, estão fechados. “Os movimentos transatlânticos estão reduzidos a quase nada”, recordou. Além disso, disse, companhias aéreas como a Ryanair “tinham muito mais liquidez”, e também já estão a rever em baixa os níveis de operação para perto do que está a ser efectuado pela TAP. 

Depois de uma insistência de dois deputados do PSD sobre o papel da companhia nos aeroportos do Porto, Faro e Funchal, Pedro Nuno Santos voltou a dizer que já tinham sido dados alguns passos em frente, voltou ao caso do aeroporto Sá Carneiro para o qual tinham sido retomadas quatro rotas em resposta ao desafio da região e que estas estão com uma lotação média de 46%, o que não as rentabiliza.

Aqui, o ministro Pedro Nuno Santos adiantou que uma das ideias que estão em cima da mesa é a de reforçar a frota da Portugália/TAP Express, composta por aeronaves mais pequenas e mais baratas, e incrementar a aposta em ligações ponto a ponto a partir de Faro e do Porto, combatendo a concorrência das low cost.

Tem sido, aliás, a Portugália a assegurar grande parte dos voos operados pelo grupo. Assim, o plano passa por combinar mais duas estratégias, uma com ponto a ponto, mais orientada para o médio curso (nomeadamente na Europa), e aquela em que a TAP se estava, como disse o ministro, “a especializar”, com o hub, e que deverá diminuir de dimensão. 

Sobre o processo de selecção do futuro presidente executivo, que está a ser conduzido pela Korn Ferry, empresa norte-americana de “caça-cabeças” o ministro afirmou que esta “já está a fazer o seu trabalho” e que deverá apresentar as suas propostas “a breve prazo”. 

O requerimento do BE incluía também a SATA, o pedido de ajudas públicas e a investigação anunciada pela Comissão Europeia à companhia pública açoriana, mas o ministro recordou que essa é uma matéria da competência do Governo Regional dos Açores.

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