Melhor mês do turismo perde 312 milhões só no alojamento

Em Agosto, a queda dos proveitos foi de 49% em termos homólogos, com a continuação de uma forte descida do número de turistas estrangeiros. Devido aos efeitos da pandemia, nesse mês houve 21,2% dos estabelecimentos que estiveram encerrados ou não tiveram hóspedes.

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Turismo no espaço rural e de habitação teve uma descida de apenas 4,2% Paulo Pimenta

O impacto dos efeitos da pandemia de covid-19 vai sendo contabilizado à medida que são conhecidos os dados oficiais, e as contas mostram bem a dimensão da crise: em Agosto, o melhor mês do turismo em média, os proveitos totais dos alojamentos contabilizados pelo INE não foram além dos 326 milhões de euros, o que representa uma diferença de 49% face a idêntico período de 2019.

Ou seja, o valor dos proveitos encolheu 312 milhões de euros no alojamento turístico, universo que por questões de recolha de dados estatísticos não inclui as unidades de alojamento local com menos de 10 camas (e que são dezenas de milhares). De acordo com o INE, em Agosto “21,2% dos estabelecimentos de alojamento turístico estiveram encerrados ou não registaram movimento de hóspedes”.

Entre Março e Agosto deste ano os proveitos não foram além dos 655,6 milhões de euros, quase tanto como o valor registado apenas no mês de Agosto de 2019 (638,3 milhões). Ao todo, o sector do alojamento analisado pelo INE encaixou, nestes seis meses em análise, menos 75% de receitas, o que equivale a menos 1974 milhões de euros.

Numa actualização dos dados já conhecidos através da estimativa rápida, o INE refere que em Agosto foram registados 1,9 milhões de hóspedes e 5,1 milhões de dormidas no mês em análise, o que equivale a menos 43,2% e menos 47,1%, respectivamente (mesmo assim, notou-se uma melhoria face às variações negativas de 63,8% e de 67,8% de Julho).

Como já era esperado, a maior queda, devido às restrições nas viagens, verificou-se no registo dos não residentes, com as dormidas a recuarem 72%, para 1,7 milhões. Já as dormidas dos residentes em Portugal tiveram apenas uma ligeira descida de 2,1%, para 3,3 milhões. Em termos de hóspedes, os não residentes foram 588,7 mil (menos 70,1%), contra os 1894 mil (menos 4,6%) dos residentes.

O efeito do corredor britânico

Entre os mercados emissores, o INE refere que as maiores reduções em termos de dormidas ocorreram nos mercados norte-americano (menos 93,4%), canadiano, chinês (menos 92,7% em ambos), enquanto os mercados suíço (menos 50,6%), espanhol (menos 57,2%) e alemão (menos 59,2%) “foram, entre os principais, os que registaram menores decréscimos”.

O maior mercado emissor, o Reino Unido, teve uma queda de quase 80%. De acordo com a análise feita pelo INE, o impacto seria ainda maior sem a “janela” que se abriu temporariamente no final desse mês. A 20 de Agosto, as autoridades britânicas anunciaram “que, a partir do dia 22 de Agosto, quem entrasse em Inglaterra vindo de Portugal não teria de ficar em quarentena obrigatória”. A medida seria revogada logo no início de Setembro, mas teve, entretanto, efeitos positivos.

“A abertura do corredor aéreo com Portugal terá contribuído para a recuperação que se verificou em Agosto, mês em que se registou uma redução de 79,8% das dormidas de residentes no Reino Unido, depois de quatro meses com diminuições sempre superiores a 90%”, destaca o INE.

No mês de Julho o número de passageiros vindo do Reino Unido registou uma descida de 85,5%, percentagem que se situou nos 69,1% em Agosto. “Entre os dias 1 e 20 de Agosto, o decréscimo do número de passageiros desembarcados foi de 79,7%, evolução que contrasta com a diminuição registada entre 21 e 31 de Agosto (menos 47,2%). Neste último período desembarcaram 55,8% do total de passageiros desembarcados em Agosto de 2020 (32,6% em igual período de 2019)”.

O Algarve foi a região com mais dormidas e receitas (154,7 milhões de euros, o que equivale a menos 41,7%), mas foi o Alentejo quem sofreu o menor impacto negativo (com menos 15,3% nas dormidas e menos 6,6% nos proveitos, para 29,8 milhões de euros). A maior redução registou-se na Madeira, seguindo-se os Açores e a Área Metropolitana de Lisboa. Em termos de tipologias, a oferta menos impactada foi a do turismo no espaço rural e de habitação, com uma descida de apenas 4,2%.

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