Covid-19: filha denuncia infecção da mãe em hospitais de Lisboa

Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental admite que infecção em meio hospitalar pode acontecer. Governo pediu informação sobre o caso “com carácter de urgência”.

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Pedro Valdez

A denúncia é feita pela filha de uma utente, que passou pelo Hospital São Francisco Xavier e pelo Hospital Egas Moniz, e que considera que a mãe poderá ter sido infectada com o SARS-CoV-2 numa daquelas instituições. O Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, que abrange as duas instituições, admite essa hipótese, embora garanta que naquelas unidades se seguem as “melhores práticas” para que tal não aconteça.

“Qualquer pessoa doente ou não doente poderá ser infectada em qualquer local, casa, hospital, supermercado, transporte, etc. No hospital, todos os profissionais seguem as melhores práticas para que não haja infecções entre os próprios e os seus doentes”, lê-se numa resposta do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, enviada por escrito a questões colocadas pelo PÚBLICO.

Mariana Pinto, a filha da utente em questão, relatou ao PÚBLICO que a mãe teve falta de ar e tosse e que, depois de ter ligado para a Saúde 24, foi encaminhada para o Hospital São Francisco Xavier. Nesse dia e no seguinte, fez dois testes à covid-19 que deram negativo, diz. Foi, depois, diagnosticada com uma pneumonia e transferida para o Hospital Egas Moniz “por não haver vagas”. Melhorou e ponderaram dar-lhe alta, conta ainda. Mas depois começou a piorar, fizeram novo teste à covid-19 e estava infectada, de acordo com o resultado do teste que a filha afirma ter-lhe sido transmitido a 19 de Setembro. A mãe foi novamente transferida para o Hospital São Francisco Xavier e, segundo a filha, está em “estado muito grave”, correndo “risco de vida”. Entre o momento em que chegou ao São Francisco Xavier, 11 de Setembro, e o dia em que regressou a este hospital, transferida do Egas Moniz, passaram cerca de 10 dias, segundo relatos da filha.

Além de apontar falhas às condições em que os utentes permanecem no Hospital São Francisco Xavier, Mariana Pinto critica ainda o facto de que, quando chegou a este hospital, a mãe ter estado numa sala por onde passaram várias pessoas, umas a quem o teste à covid-19 deu positivo; outras a quem deu negativo. Só depois desse teste, foram separadas. O Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, nas respostas enviadas ao PÚBLICO, nota que “no serviço de urgência, os doentes respiratórios ficam num circuito próprio até definição do seu diagnóstico, onde são criadas condições de separação e individualização de cada doente”.

Mariana Pinto relata ainda que, a 7 de Outubro, quando a mãe já estava internada ligaram-lhe do centro de saúde. Nesse telefonema, diz, a mãe estaria referenciada “no sistema como estando em vigilância domiciliária e não como estando internada nos cuidados intensivos”.

Questionado sobre este desfasamento nos dados, o conselho de administração do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental responde que, “não havendo, ainda, visitas nos hospitais, a não ser em casos muito particulares, as informações são dadas pelo hospital aos familiares”. Mas admite a possibilidade de “algum atraso nos registos”: “A maior preocupação dos profissionais é tratar os doentes e colocá-los em segurança, podendo, eventualmente, ocorrer algum atraso nos registos, mas que não impedem o melhor tratamento ao doente”, lê-se nas respostas enviadas ao PÚBLICO.

Mesmo com “todas as regras não é possível impedir a transmissão"

Mariana Pinto já escreveu, entre outras entidades, ao Presidente da República, à Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo, e ao secretário de Estado Adjunto e da Saúde a denunciar a situação. Ao PÚBLICO, Mariana Pinto enviou o documento que o chefe de gabinete do secretário de Estado Adjunto e da Saúde remeteu à ARS de Lisboa e Vale do Tejo, pedindo informação sobre este assunto “com carácter de urgência”.

A ARS de Lisboa e Vale do Tejo, por sua vez, pediu, também com “carácter urgente”, ao conselho de administração do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental informação, para remeter ao secretário de Estado, sobre as “medidas tomadas para ultrapassar a situação apresentada pela utente, esclarecimento e resolução”. Mariana Pinto também recebeu este email.

Quanto ao hospital, respondeu a Mariana Pinto que, “aquando da admissão dos doentes nos serviços do Centro Hospitalar é realizado teste à covid-19” e que, “caso sejam apresentados sintomas do foro respiratório são sempre efectuados, pelo menos, dois testes”. E acrescenta: “Havendo lugar a internamento, os doentes são novamente testados, sempre que clinicamente tal prática se justifique, sendo os testes repetidos as vezes que se entendam necessárias, em consonância com o quadro clínico e as circunstâncias verificadas em cada momento.”

Nas explicações enviadas, garante ainda que os profissionais de saúde daquele centro hospitalar “fazem diariamente, de acordo com as normas em vigor, uma auto-avaliação de sintomas, sendo realizados testes sempre que tal seja considerado adequado, tendo em conta a situação clínica e epidemiológica de cada um”. Além disso, é ainda referido que os profissionais têm “todos os cuidados” para “evitar o risco de transmissão” no hospital. “No entanto, mesmo com o cumprimento de todas as regras não é possível impedir a transmissão por essa via, como se tem verificado pela descrição da ocorrência de casos desta natureza, a nível mundial”, lê-se na resposta enviada à filha da utente em questão.

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